Brasília - Por causa do agravamento da crise política, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), decidiu adiar uma reunião internacional de parlamentos que havia sido marcada para esta terça-feira (23), com o intuito de protestar contra o desrespeito à democracia, à autonomia dos Poderes e aos direitos humanos na Venezuela. Estariam presentes os presidentes dos legislativos de Argentina, Guiana, México e Peru, além de representantes de alto nível dos parlamentos de Portugal, Espanha e Itália.
A ideia era realizar uma sessão solene na Câmara dos Deputados, para uma reunião chamada “Diálogo Parlamentar em Defesa da Democracia na Venezuela”. O evento havia sido proposto pelo presidente da Assembleia Nacional venezuelana, o oposicionista Julio Borges, em fevereiro passado, quando ele esteve no Brasil e foi recebido por Maia e também pelo então ministro das Relações Exteriores, José Serra. Na época, pensou-se até em ampliar a reunião, incluindo também chefes dos tribunais eleitorais da região.
A ideia era reunir o maior número possível de chefes de parlamentos para protestar contra o governo de Nicolás Maduro. A oposição venezuelana pede a libertação dos 167 presos políticos, a realização de eleições gerais (as regionais deveriam ter sido realizadas em dezembro passado), respeito ao Legislativo (que quase teve seus poderes absorvidos pelo Judiciário) e a abertura de um canal de ajuda humanitária para que os venezuelanos recebam alimentos e remédios.
Porém, na última quinta-feira, Maia e o deputado Rubens Bueno (PPS-PR), que coordenava os preparativos da reunião, avaliaram que o cenário nacional -- com as primeiras revelações das delações dos donos da JBS, Joesley e Wesley Batista, envolvendo o presidente Michel Temer -- não daria condições para realizar a reunião.
Eles concordaram que não há como, diante de uma crise interna ainda não resolvida, falar sobre a democracia em outro país. O evento corria o risco de ser improdutivo, pois um documento pressionando o governo Maduro perderia força política pelo fato de haver sido discutido no Brasil, na atual situação.
A decisão foi comunicada a Julio Borges ao Itamaraty, que comunicou o adiamento aos demais participantes. A nova data ainda não está marcada.