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População urbana brasileira é superestimada, diz pesquisador

Por Agencia Estado
Atualização:

Antes de adotar políticas de desenvolvimento sustentável no campo é preciso definir o que é o Brasil rural. Sem uma definição precisa de cidade, os dados oficiais sobre urbanização perdem confiabilidade, disse nesta terça-feira José Eli da Veiga, professor da Universidade de São Paulo, durante conferência na 54ª reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em Goiânia. Pelos números oficiais, 82% da população vive em cidades. Para Veiga, esse porcentual não chega a 60%. Um decreto-lei de 1938 define que qualquer sede de município deve ser considerada uma cidade, independentemente de outros critérios, como quantidade de habitantes ou localização. Essa definição é levada a extremos, tanto que um núcleo de 18 habitantes no Rio Grande do Sul, União da Serra, tem o título de cidade. "É um disparate total", afirmou Veiga. Seguindo esses critérios, um mapa publicado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 1996 mostra que o sul do Rio Grande do Sul, o Pantanal e Roraima são tão urbanizados quanto o Sudeste. "Muita população indígena é tratada como se fosse urbana", afirmou Veiga. É por isso que projeções baseadas em fontes oficiais indicam que em 2030 o País deixaria de ter população rural. Em 2000, de um total de 5.507 sedes de município, 1.176 tinham menos de 2 mil habitantes, 3.887 menos de 10 mil e 4.642 menos de 20 mil. Alguns desses conglomerados, porém, podem estar incrustados em cidades grandes ou ter alta densidade populacional. Para obter um panorama mais preciso da realidade, Veiga utiliza a pesquisa Caracterização e Tendências da Rede Urbana do Brasil, de 1999, feita pelo próprio IBGE, pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea) e pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O trabalho concluiu que no Brasil há 12 aglomerações metropolitanas (onde residem 33,8% da população), 37 aglomerações não-metropolitanas (13,4%) e 77 centros urbanos com mais de 100 mil habitantes (9,5%). Nessa rede urbana, de 455 municípios, morava, em 2000, 57% da população. "Este é o Brasil inequivocamente urbano", afirmou. Na outra ponta, 13% da população vive em 10% de municípios que não podem ser considerados nem urbanos nem rurais. E 30% dos brasileiros vivem em 80% dos municípios que formam o Brasil essencialmente rural.

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