''Política externa virou agenda interna''

Para embaixador Rubens Barbosa, governo segue cartilha do PT na área

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Por Denise Chrispim Marin e Brasília
Atualização:

As linhas mestras da política externa do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que priorizam as relações do Brasil com o mundo em desenvolvimento, saíram do PT. Para o embaixador Rubens Barbosa, presidente do Conselho de Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), a execução dessa cartilha foi encampada sem resistência ou ressalva pela cúpula do Itamaraty, em 2003, e está na base da pretensão deste governo de alçar o País a uma posição de ativismo nos foros políticos internacionais. "A política externa é do PT. O governo precisou defender uma posição independente no mundo para compensar a sua opção neoliberal na gestão macroeconômica", afirmou Barbosa. "A política externa foi o que o Lula pôde dar ao PT. Virou agenda interna", completou. Aposentado da carreira diplomática desde 2004, o embaixador aponta pelo menos dois equívocos da política externa. O primeiro é a opção pela cooperação Sul-Sul - em que se prioriza a relação com países em desenvolvimento -, em detrimento do reforço necessário às relações do Brasil com as economias mais desenvolvidas. Essa posição levou o governo a desequilibrar suas concessões aos vizinhos sul-americanos, como forma de evitar atritos resultantes de insatisfações pontuais. Para Barbosa, o mais recente exemplo dessa linha de ação deu-se há uma semana, quando o governo recuou em sua decisão anterior de cortar as importações de gás natural da Bolívia de 31 milhões de metros cúbicos para 19 milhões de metros cúbicos entre janeiro e abril. Mesmo com um prejuízo estimado em US$ 300 milhões, a Petrobrás teve de subir esse limite a 24 milhões por "considerações políticas". O presidente Lula se reuniu semana passada com o presidente boliviano, Evo Morales, em Puerto Suárez. CACIFE O outro equívoco diz respeito à ambição de colocar o Brasil - e o próprio Lula - no centro dos debates políticos internacionais. Para Barbosa, o País tem cacife para atuar como protagonista nos foros econômico-comercial, de energia e de meio ambiente. Mas carece de forças para atuar no campo político, como em uma eventual retomada das negociações de paz entre Israel e Palestina. "Não tivemos cacife nem para resolver a guerra das papeleiras entre a Argentina e o Uruguai, quanto mais para influir em processo de paz no Oriente Médio", afirmou. "O ativismo para chamar a atenção sobre o Brasil não é justificável na área política", completou.

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