Política de segurança da Petrobras deve ser revista, dizem especialistas

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Por Agencia Estado
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O acidente com a plataforma P-34, apenas 20 meses após o naufrágio da P-36, também na Bacia de Campos, reacende a discussão sobre a necessidade de revisão na política de segurança nas unidades de produção da Petrobras. Na opinião de especialistas e funcionários da empresa, a preocupação com a segurança não tem crescido na mesma proporção em que aumenta a produção de petróleo e, por conseqüência, as atividades no setor. "Não dá para acelerar a produção sem levar em conta a segurança", diz o professor Roberto Moraes Pessanha, especialista em segurança do trabalho e autor de uma tese sobre o regime em plataformas de produção de petróleo. "A sequência de acidentes está aí para demonstrar que o sistema não é seguro", afirma. "Tem que ver esta questão de uma maneira diferente. Há mais movimento, mais operações nas atividades de produção de petróleo", diz o professor Segen Estefen, especialista em construção naval. A Agência Nacional do Petróleo (ANP) já se uniu ao Departamento de Portos e Costas (DPC) da Marinha e a representantes do setor para elaborar uma nova regulamentação sobre segurança na atividade. Em outra frente, o Ministério do Trabalho criou uma comissão com representantes da estatal e dos trabalhadores para avaliar as políticas adotadas pela empresa sobre o tema. Após as explosões na P-36, que provocaram a morte de 11 funcionários, a companhia criou um programa de excelência operacional em suas instalações marítimas. O programa previa uma série de ações para reduzir os riscos e minimizar os danos de acidentes em plataformas, entre elas o treinamento de pessoal e a revisão das atividades de engenharia e manutenção. O cronograma inicial previa total implementação até dezembro deste ano. O presidente do Sindicato dos Petroleiros do Norte-Fluminense, Fernando Carvalho, disse, porém, que ainda não dá para sentir os efeitos do plano. Funcionários Pessanha cita questões como automação - sem conseqüente treinamento dos funcionários -, crescente terceirização e redução dos efetivos como pontos críticos. Ele questiona também a falha nos sistemas de emergência de energia e de funcionamento das válvulas. "Tem que haver maior redundância no sistema", afirma. Para ele, é importante que a empresa ouça os funcionários. "Não é possível que uma empresa que se diz moderna como a Petrobras prescinda de ouvir os trabalhadores", avalia. Mas os sindicalistas reclamam que, só por via judicial, conseguem participar de decisões da empresa na área de segurança. No incidente da P-36 foi assim, lembra Carvalho. A presença de empregados na comissão de investigação teve que ser forçada por liminar judicial. Além disso, a FUP tem ações na Justiça para a determinação de auditorias independentes nas plataformas e para a instalação de uma Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (Cipa) em cada embarcação. Segundo Carvalho, a Petrobras argumenta que a medida não é necessária. Para Estefen, dado o risco da atividade, as empresas de petróleo têm que tomar todas as atitudes possíveis para aumentar a segurança. A terceirização do desenvolvimento de políticas de segurança e das atividades de manutenção também foi criticada pela FUP. "Segurança, no nosso entender, é atividade-fim. Tem que ser feita com ajuda de funcionários da companhia. E manutenção necessita de memória técnica, que empresas terceirizadas não têm", disse o diretor da entidade. Segundo ele, o programa de investimentos da Petrobras se preocupa mais com o que fazer após os acidentes do que com o que fazer para evitá-los. A Petrobras não deu retorno ao pedido de entrevista.

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