''''Podemos ser adversários, não inimigos pessoais''''

Por Brasília
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O crescimento do PMDB baiano, que conquistou o posto de vice-governador, três secretarias e viu o número de prefeitos saltar de 25 para uma centena do ano passado para cá, tem seu custo. Líder do partido na Bahia, o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, é o alvo preferido de petistas. Diante das pesquisas que registram o fraco desempenho administrativo do governador Jaques Wagner (PT), Geddel tem se posicionado como alternativa para a corrida estadual de 2010, dificultando mais a relação entre PT e PMDB. O ministro bota panos quentes. "Wagner ainda tem tempo e será capaz de fazer, com o apoio de todos nós, um grande governo na Bahia", afirma. "Não vou pisar no pescoço de ninguém nem romperei alianças para realizar meus legítimos projetos pessoais." PT e PMDB vão disputar o espólio do carlismo ou, como se diz, farão um acordo de procedimento? O ciúme pode ocorrer e é natural que aconteça na base. Mas o acordo de procedimento é simples. Nossos projetos não são excludentes nem conflitantes. Eu não tenho medo de sombra, e acho que eles também não. Até porque não são apenas as articulações que decidem os destinos dos homens públicos. Tem o voto, tem as urnas. Especialistas em carlismo dizem que o grupo tem uma ala mais ortodoxa, vinculada a ACM, e outra governista e pragmática, que já se movimenta para aderir ao PT ou ao PMDB. É isso? Infelizmente, o sistema político faz com que os governos saiam das urnas sem as maiorias legislativas de que precisam, o que estimula o adesismo em cima do governo de plantão. Eu e o governador vamos administrar isso com a sabedoria que avalizou a aliança PT-PMDB. Como nossa relação é fraterna e de franqueza às vezes rude, mas necessária de parte a parte, pode haver estremecimento. Importante é que a aliança permaneça. Tem petista preocupado com a "gula" do PMDB e a cooptação de prefeitos. Eu disputei e venci a eleição com Wagner. O PMDB correu o risco, quando a candidatura dele e nossa aliança eram vistas como uma piada, um sonho de verão que não chegaria a lugar algum. Portanto, nosso espaço, que alguns questionam, não foi dado, foi conquistado nas urnas. Evidentemente, as bases do partido que ajudaram nessa vitória se incomodam com as fofocas e intrigas dos adesistas, que querem deslocar o PMDB e tentar ocupar espaço. A grande aflição de setores do PT baiano hoje é imaginar que o PMDB vai aglutinar setores do carlismo e levar a maior fatia do espólio de ACM. Eu não disputo espólio. Faço política. Só posso dizer que o PMDB foi fundamental para a vitória de Wagner e para que o partido se unificasse em torno do apoio ao presidente Lula. Como sei que tanto o presidente quanto o governador são homens que, por caráter, trazem reconhecimento e gratidão na vida pública, sei que sabem da importância do PMDB neste processo. A reunião de Wagner com a bancada, o senhor, ACM Neto e ACM Júnior para discutir a Bahia é fato inédito? Inédito é, e eu espero que este clima persista. Minha passagem por lá teve o significado de mostrar, de forma simbólica, que somos capazes, como em outros Estados acontece há muito mais tempo, de entender que podemos ser adversários políticos, e não inimigos pessoais. Era o pulso forte de ACM que impedia o diálogo? Evidentemente, isso tensionava as relações políticas na Bahia. Como ele tinha liderança muito forte sobre seu grupo, as pessoas chegavam ao ponto de negar um cumprimento a um adversário de ACM para não serem identificadas, por ele, como alguém que estivesse fugindo ao seu controle. O desaparecimento de uma personalidade com estas características permite uma rearrumação das forças políticas na Bahia e uma mudança na qualidade das relações. C.S. Quem é: Geddel Vieira Lima Administrador de empresas formado pela UnB. Quatro vezes deputado federal. Opositor do governo Lula no primeiro mandato, assumiu a Integração Nacional em março.

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