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PMs acusados por Eldorado de Carajás culpam o Estado

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Por Agencia Estado
Atualização:

Pela primeira vez em seis anos, policiais militares e representantes de associações que cuidam dos interesses de soldados, cabos e sargentos da Polícia Militar do Pará envolvidos no episódio que ficou conhecido como o Massacre de Carajás, quando 19 sem-terra foram mortos em Eldorado dos Carajás, quebram o silêncio: "estávamos a serviço do Estado, que nos abandonou e agora quer nos condenar, mas matamos para não morrer". Ameaçados de prisão e transferência se falarem sobre o massacre, quatro militares, pedindo para não ter seus nomes divulgados, acusam o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) de, no dia 17 de abril de 1996, na Curva do S, jogar a "multidão armada de revólveres, foices, paus e pedras contra a tropa". Eles reconhecem que não estavam preparados para a aquela missão, porque não possuíam cassetetes, bombas de efeito moral e balas de borracha. E, para se defender da fúria dos sem-terra, alegam ter atirado "em legítima defesa". Para os policiais, a responsabilidade pelas 19 mortes deve ser atribuída ao governador do Estado, Almir Gabriel, ao secretário de Defesa Social, Paulo Sette Câmara, e ao ex-comandante-geral da PM, coronel Fabiano Lopes. A tentativa de ouvir essas três autoridades foi inútil. Assessores do governo informaram que nenhum dos três irá comentar a acusação enquanto o processo não for julgado. "Nós já estamos pagando por receber ordens superiores para desobstruir de qualquer maneira aquela estrada. Nem o governo nem a PM nos dá qualquer assistência", queixam-se os soldados. Quase todos os 130 soldados e cabos continuam trabalhando normalmente nos quartéis de Marabá e Parauapebas. Seis policiais foram assassinados na região. Um dos soldados, cuj nome é mantido em sigilo, é taxativo: "para mim, os que estavam em Eldorado dos Carajás são totalmente inocentes. Graças a Deus a imprensa filmou e mostrou pra todo o mundo o ataque dos sem-terra contra eles. Se houver justiça, eles devem ser absolvidos". Chamado várias vezes de "assassino" nas ruas pelo MST, outro soldado afirma ter sido baleado em duas emboscadas feitas por possseiros contra a PM, em Xinguara. Depois, em Eldorado dos Carajás, ele viu cinco dos nove homens que o balearam serem mortos. "Vi a morte duas vezes, mas para mim não teve direitos humanos. Ninguém foi me visitar no hospital ou ajudar minha família", afirma o soldado. O advogado Paulo Ronaldo Albuquerque, um dos defensores dos soldados e cabos, garante que vai apresentar uma "bomba" durante o julgamento, cuja data deve ser marcada no próximo dia 25 pela juíza Eva do Amaral Coelho. Ele adianta que vai provar que vários soldados sequer estavam no local onde os sem-terra foram mortos, embora tenham sido pronunciados para sentar no banco dos réus. A tese que Albuquerque vai defender é a da "autoria incerta". O argumento é de que nem o Ministério Público nem as testemunhas arroladas nos 30 volumes do processo, até hoje não teriam conseguido dizer quem e de que maneira matou os 19 trabalhadores rurais.

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