PMDB segura CPI contra Palocci e faz Planalto refém

Partido enquadra 7 senadores que poderiam garantir assinaturas suficientes para investigar o chefe da Casa Civil; após ameaças de Dilma, na votação do Código Florestal, de demitir ministros peemedebistas, dirigentes rechaçam retaliações

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Por Redação
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BRASÍLIA - Pressionado pelo Planalto, o PMDB fez um pacto temporário com sete senadores rebeldes da sigla para evitar que sejam favoráveis à instalação de uma CPI que investigue o ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, deixando o Palácio do Planalto totalmente refém dos humores do partido. Dirigentes da sigla aproveitaram, ainda, para avisar a presidente Dilma Rousseff que não aceitarão retaliações por terem confrontado o governo na votação do Código Florestal.

 

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Na aritmética da pressão, se os sete senadores peemedebistas, que normalmente divergem da orientação da cúpula do partido, se somarem aos 19 senadores de oposição (PSDB, DEM, PPS e PSOL) e demais insatisfeitos da base, a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito contra Palocci passa a ser factível. São necessárias pelo menos 27 assinaturas na Casa para abrir uma investigação.

 

"Se contemporizando já está difícil, não é hora de colocar combustível nessa relação. Não dá para aceitar isso", diz um cacique do partido, sobre as ameaças verbalizadas por Palocci nesta semana ao vice-presidente da República, Michel Temer, de demitir ministros do PMDB diante de infidelidade do partido na votação do Código Florestal.

 

Segundo informação publicada na coluna de Dora Kramer, no jornal O Estado de S. Paulo, no dia da votação do código Palocci telefonou para Temer e deu o duro recado de Dilma. Palocci teria insistido ainda sobre a possibilidade de demissão do ministro da Agricultura, Wagner Rossi, indicação pessoal de Temer. O vice-presidente interpretou a ação como ameaça.

 

Temer fez um café da manhã, na quinta-feira, no Palácio do Jaburu, quando juntou os sete peemedebistas incomodados como governo Dilma: Jarbas Vasconcelos (PE), Roberto Simon (RS), Luiz Henrique (SC), Casildo Maldaner (SC), Ricardo Ferraço (ES), Waldemir Moca (MS), Eduardo Braga (AM). Eles se comprometeram a não assinar o requerimento da CPI - houve uma "fuga", porque Jarbas assinou, mas, mesmo assim, Palocci ligou ontem no final da tarde para Temer e agradeceu pelo serviço de contenção política.

 

Aviso. Nesta sexta, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), afirmou não acreditar em retaliação por conta da ameaça de demissão dos ministros do PMDB. "Nem conversei com o presidente Temer, não tenho conhecimento desse fato e não acredito em retaliação contra o PMDB em decorrência da posição dos senhores deputados", disse. "Seria uma providência que jamais seria bem recebida pelo partido. Não acredito em nenhuma retaliação do governo pela posição que o PMDB possa ter", acrescentou.

 

Outro integrante do PMDB destaca que a ligação telefônica de Palocci a Temer não foi a única ação deselegante no episódio. Ele lembra que, em discurso na tribuna, o líder do governo, Cândido Vaccarezza (PT-SP), afirmou que uma derrota levaria a Câmara a ficar sob ameaça. "A Casa fica sob ameaça, no regime parlamentarista ou no regime presidencialista, quando o governo é derrotado. Aí é que a Casa fica sob ameaça", disse o petista durante a votação.

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Para este peemedebista, a resposta a essas ações já foi dada. "A chantagem não foi aceita. O plenário da Câmara já se posicionou e não aceitou esse tipo de ação." A avaliação é que setores do PT que duelam dentro do governo e do Congresso tem procurado jogar a pressão para o PMDB para minimizar as disputas internas.

 

Liderança. Cotado para ocupar a liderança do governo no Congresso, o deputado Mendes Ribeiro (PMDB-RS) acredita que o Planalto agiu errado ao colocar pressão demais na votação na Câmara. "Tem muitas fases ainda. A presidente deve prorrogar o decreto e buscar o entendimento. O que nós não tivemos capacidade de fazer pelo diálogo a presidente pode ainda fazer pelo veto. O que não pode é criar para cada etapa uma indisposição desnecessária", afirmou.

 

O líder do PSDB no Senado, Alvaro Dias (PR), disse que tinha ouvido relatos sobre a discussão entre Palocci e Temer e atribuiu o fato à falta de comando no governo. "É uma nau a deriva".

 

O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) afirmou que o episódio precisa ser esclarecido por Palocci e Temer e destacou a situação de fragilidade do ministro: "Essa ação não combina muito com ele (Palocci), ainda mais na situação em que ele se encontra".