
04 de julho de 2011 | 19h21
RIO - O PMDB fluminense encomendou uma pesquisa para medir o impacto eleitoral das crises enfrentadas pelo governador Sérgio Cabral no último mês. Entre sexta-feira, 8, e domingo, 10, uma empresa contratada pelo partido vai às ruas para perguntar à população se Cabral ultrapassou limites éticos ao viajar no jato particular de Eike Batista e ao participar da festa de aniversário do dono da empreiteira Delta, que tem contratos de R$ 1 bilhão com seu governo.
Há 50 perguntas no questionário, elaborado pelo instituto de pesquisas e aprovado pelo diretório regional do partido. Pelo menos 15 desses itens avaliarão as relações entre Cabral e os empresários, além do impacto sofrido pelo governador durante as manifestações do Corpo de Bombeiros do Estado.
As eleições municipais de 2012 são a preocupação imediata das lideranças do PMDB do Rio, pois Cabral é considerado um cabo eleitoral implacável no Estado. Os dirigentes peemedebistas acreditam que a imagem do governador não foi arranhada pelos dois episódios, mas adotam uma posição de "cautela" para traçar as estratégias da legenda no próximo ano.
O partido quer saber qual o nível de conhecimento dos eleitores fluminenses em relação ao envolvimento de Cabral com os empresários, além de sua opinião sobre a conduta do governador. Os entrevistadores perguntarão se a viagem do governador no avião de Eike Batista e se sua ida ao aniversário de Fernando Cavendish, dono da Delta, "ultrapassam a fronteira ética".
A pesquisa também pedirá aos eleitores que avaliem a atitude do governador durante os protestos dos bombeiros do Estado, que ocuparam o quartel-central da corporação no dia 3 de junho e foram presos pelo Bope, por ordem de Cabral. Na ocasião, o governador chamou os manifestantes de "vândalos" e "irresponsáveis", mas admitiu que estava errado semanas depois.
Avaliações periódicas são feitas pelo PMDB para medir a popularidade do governador, mas o partido decidiu criar um questionário qualitativo depois das crises provocadas pelos bombeiros e pelo acidente de helicóptero que causou a morte da mulher de Cavendish, de seu enteado e da namorada de um dos filhos de Cabral, no dia 17 de junho, na Bahia.
O partido do governador avalia que os dois casos não provocaram impacto em sua imagem, mas a oposição tenta ampliar as investigações sobre o caso. O deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL) vai entrar nesta terça-feira, 5, com uma representação no Ministério Público Federal (MPF) para que sejam apuradas as denúncias de que as famílias de Cabral e Cavendish teriam viajado a Nassau, nas Bahamas, a bordo do jato de Eike Batista.
Segundo o jornal O Globo, a aeronave de Eike ficou a disposição do governador por uma semana, em dezembro do ano passado. O avião teria transportado a primeira-dama Adriana Ancelmo e dois filhos do casal, além da mulher de Cavendish, Jordana, um de seus filhos e três babás. Dias depois, o jato ainda teria retornado ao Rio para transportar Cabral até a ilha.
De acordo com o jornal, Jordana e o filho chegaram a ficar retidos em Manaus, pois a criança não tinha os documentos necessários para a viagem. Cabral teria pedido à Polícia Federal que liberasse o voo, mas o jato teria seguido viagem com a primeira-dama e retornado dois dias depois para buscar Jordana.
"Já havia muitas coisas estranhas evidenciadas nessas relações entre o governador e os empresários, mas entro com uma nova representação no MPF diante dessas novas informações", afirmou Freixo.
O governo do Estado informou que Cabral "já falou sobre o assunto" e que não se manifestaria sobre as informações publicadas na segunda-feira, 4. A EBX também não comentou o caso.
Na tentativa de superar os episódios, o governador mantém uma agenda positiva, apoiado na aprovação de benesses para servidores estaduais. Na segunda-feira, Cabral assinou o decreto que dobrou a gratificação aos policiais que cumpriram as metas de redução de criminalidade nos primeiros seis meses do ano.
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