Planalto pede celeridade, mas oposição quer impeachment após recesso parlamentar

Ministro-chefe da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini, defende que processo de impedimento tenha um desfecho o mais breve possível no Congresso; já no Senado, o líder do PSDB, Cássio Cunha Lima (PB), defendeu o recesso legislativo

PUBLICIDADE

Por Erich Decat Isabela Bonfim
Atualização:

BRASÍLIA - Em reunião realizada nesta quinta-feira, 3, no Palácio do Planalto com lideranças da base aliada da Câmara, o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini, defendeu que o processo de impeachment tenha um desfecho o mais breve possível no Congresso. Novas reuniões para tratar da estratégia do governo estão previstas ocorrer ao longo do dia.

Ministro da Secretaria de Governo da Presidência da República, Ricardo Berzoini Foto: Andre Dusek/Estadão

PUBLICIDADE

A ideia, segundo parlamentares presentes no primeiro encontro, é de atuar com celeridade enquanto não há uma definição pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em relação ao tema.

No Senado, o líder do PSDB, Cássio Cunha Lima (PB), defendeu o recesso legislativo e acredita que o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff será mais forte se tiver continuidade só depois das festividades de fim de ano. "Mobilizar a sociedade nessa época do ano será uma tarefa um tanto quanto difícil. Temos Natal, Ano Novo, férias escolares, janeiro já emenda com o Carnaval, é difícil", argumentou.

As declarações são em resposta à tentativa do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de cancelar o recesso legislativo, que começa em 22 de dezembro. Cunha gostaria de dar sequência ao processo de impeachment que ele mesmo autorizou na tarde de ontem. Coincidentemente, acelerar o processo, também é de interesse do Planalto, que acredita que o curto intervalo de tempo pode jogar à favor da presidente. 

O líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PB) Foto: Estadão

O senador tucano fez um paralelo com o processo de impeachment do ex-presidente Fernando Collor e acredita que é preciso mais pressão da opinião pública para que o afastamento de Dilma Rousseff aconteça. "O impeachment do Collor nasceu na rua e veio para o Congresso Nacional. Agora o pedido nasce no Congresso e tem que ir para a rua. A sociedade precisa se manifestar mais claramente, não apenas nas pesquisas de opinião. Só vai ter impeachment se houver rua", afirmou.

Na tarde desta quinta, o deputado federal Rubens Pereira Júnior (PC do B-MA) protocolou no STF o primeiro mandado de segurança contra o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff. O recurso foi distribuído ao ministro Celso de Mello. A distribuição é feita por sorteio.

O argumento do deputado é que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, deveria ter dado a oportunidade de Dilma apresentar defesa ao Congresso antes de acolher o pedido de impedimento. "Ao fazê-lo sem notificar previamente a presidente para que oferecesse resposta, (Cunha) violou os princípios do devido processo legal, de ampla defesa e do contraditório".

Publicidade

Segundo lideranças da base aliada da Câmara, na reunião realizada com o ministro Ricardo Berzoini também ficou o entendimento de que o governo vai monitorar e atuar diretamente na montagem da Comissão, que será responsável pelo avaliação do processo de impedimento da presidente.

No Senado, Cunha Lima acredita que o clima de impeachment ainda está interiorizado no Congresso Nacional, o que é prejudicial para que se concretiza. "Esse clima está muito voltado para o ambiente político. E se deixar nas mãos da maioria dos políticos, ele vai ser cozinhado em banho-maria e não vai levar à lugar nenhum", defendeu. Nessa perspectiva, o recesso ajudaria a superar o período de Natal e dar mais chances à oposição de mobilizar as ruas.

A opinião de Cunha Lima segue a mesma linha de Aécio Neves (PSDB-MG), que se posicionou à favor do recesso e da reaproximação dos parlamentares aos seus estados ainda na noite de ontem. O senador conversou por telefone com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que também é favorável ao recesso. Por outro lado, outro tucano, José Serra (SP), prefere que o processo siga o quanto antes.