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Planalto e líderes tentam acordo para inocentar Sarney e Virgílio

Renan e Sérgio Guerra dizem que guerra de representações no Conselho de Ética não interessa a ninguém

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Por Vera Rosa e Christiane Samarco
Atualização:

O governo e os principais líderes aliados e da oposição já trabalham abertamente em favor de um "acordão" entre o PMDB e o PSDB para resolver a crise no Senado. Mesmo considerada difícil, a saída política para o impasse começou a ser construída ontem por interlocutores de peso dos dois partidos, na tentativa de salvar tanto o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), como o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM). Em conversas reservadas, porém, auxiliares do presidente Luiz Inácio Lula da Silva deram a senha para a trégua: pediram que os tucanos não ponham mais combustível na crise, se não quiserem ver o PMDB esticar novamente a corda. Os principais articuladores da negociação são os líderes do governo, Romero Jucá (PMDB-RR); do PMDB, Renan Calheiros (AL); do PT, Aloízio Mercadante (SP), e o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE). Nem todos, porém, têm falado a mesma língua e há estocadas de parte a parte. DILEMA NO PT Os recursos impetrados ontem no Conselho de Ética por Virgílio e pelo líder do PSOL, José Nery (PA), com o intuito de reabrir as representações contra Sarney, já estavam previstos. Na prática, porém, a oposição não tem votos para aprová-los, a não ser com a ajuda do PT. Pressionada de um lado pelo governo e de outro por eleitores, a bancada do PT vive um dilema. Mercadante disse a Gilberto Carvalho, chefe de gabinete de Lula, que não tem como impedir o PT de apoiar a abertura de processo contra Sarney, por quebra de decoro parlamentar. O governo sabe que, se não for feito acordo, o PT pode se juntar à oposição para desarquivar ao menos uma denúncia. Mesmo assim, Lula aposta no racha petista para livrar o presidente do Senado. Parte dos senadores do PT quer desengavetar a acusação que liga Sarney aos atos secretos por causa da nomeação de Henrique Dias, namorado de sua neta Maria Beatriz, para um cargo de confiança no Senado. O problema é que, para Sarney ser investigado, três senadores do PT com assento no Conselho de Ética (João Pedro, Delcídio Amaral e Ideli Salvatti) precisam endossar o recurso da oposição. Embora Mercadante tenha considerado "grave" a denúncia em nota divulgada durante o recesso, Delcídio e Ideli são suplentes do conselho e não querem assumir a vaga de titulares para não mexer nesse vespeiro, já que são candidatos à reeleição, em 2010. Não é só. Mesmo que assumam, resistem a se indispor com Lula e travam queda de braço com Mercadante. "Vamos examinar tudo com rigor e equilíbrio, para formarmos opinião", argumentou Delcídio. Mercadante também concorrerá a novo mandato e já recebeu avisos do Planalto de que é necessário salvar Sarney, em nome da governabilidade e da aliança com o PMDB em torno da provável candidatura da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, à Presidência. "Nós não vamos arquivar nem desarquivar nada sumariamente e nosso posicionamento não se dá somente em função de interesses políticos e eleitorais", disse Mercadante. "Não entendi essa lógica pela qual o líder do PT quer puxar o debate sobre o desarquivamento das representações, se nem do conselho ele é", provocou Jucá. FHC Até o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso entrou na negociação e falou longamente ontem com Virgílio, por telefone. FHC sugeriu a ele "moderação, moderação e moderação". Com a ajuda dos advogados Técio Lins e Silva e Fernando Neves, Virgílio preparou uma defesa técnica, que será entregue hoje ao presidente do conselho, senador Paulo Duque (PMDB-RJ). Além disso, decidiu quitar numa única parcela a dívida de R$ 210 mil com o Senado por ter pago salário a um funcionário de seu gabinete que ficou 18 meses estudando teatro em Barcelona. "Essa guerra de representações não serve a ninguém, muito menos à instituição", insistiu Sérgio Guerra, também alvo de denúncias (veja na página 6). "O PMDB entende que essa batalha não ajuda na solução do processo. Só agrava", emendou Renan. Para o governo, o PSDB "queimou pontes" e precisa fazer um recuo estratégico para evitar que a disputa com o PMDB se torne sangrenta. Um auxiliar de Lula disse ao Estado que, se isso não ocorrer, "a coisa terminará mal" porque "vai sobrar para todo mundo".

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