Planalto diz que apagão preocupa mais que ACM

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Por Agencia Estado
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Apesar do suspense que o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) criou em torno do discurso que fará na próxima quarta-feira no Senado, renunciando ao mandato para fugir da cassação, tanto o Palácio do Planalto como o PFL informam que não há nervosismo em torno da fala do líder baiano. "O maior problema do governo hoje é o apagão, e não o ACM", resume um líder governista que tem trânsito livre no gabinete presidencial. Segundo o líder, não há "estrago" maior para a imagem do presidente Fernando Henrique Cardoso e para a administração dele do que a causada pela crise energética. A estratégia do governo, no caso de ACM, é desdenhar a importância do discurso, até para lhe reduzir o impacto. Tanto que o coordenador político e ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Aloysio Nunes Ferreira, afirma que o governo não montou qualquer esquema para rebater o discurso. Mas isto não significa, nem de longe, despreocupação do Planalto com o fala do líder pefelista. Segundo um cardeal do PFL, o que deu um pouco mais de sossego ao presidente neste fim de semana foram as notícias tranqüilizadoras levadas a Fernando Henrique pelos "intermediários" do caso, em que se inclui o deputado Heráclito Fortes (PFL-PI). "O Heráclito fez o meio de campo e passou um retorno positivo ao presidente", conta o cardeal pefelista, afirmando, porém, que, tratando-se de ACM, há sempre uma dose de imprevisibilidade. Otimismos à parte, ninguém tem dúvidas de que ACM responderá à altura o discurso de Fernando Henrique aos convencionais do PSDB no dia 19, em que o presidente responsabilizou o PFL pela crise no setor de energia, administrado pelo senador baiano e o grupo dele há mais de uma década. "Ele, com certeza, vai falar da incompetência do governo em relação ao setor elétrico", aposta um colaborador do Planalto. A avaliação geral dos conselheiros do presidente é a de que não convém polemizar com o senador e valorizar a fala, a menos que o discurso venha num tom muito ofensivo, o que não está previsto. "Se for no tom da crítica, sem ataques pessoais violentos contra o presidente, não vale a pena rebater", argumenta um dirigente nacional do PSDB. "Nós não acreditamos que ele possa fazer nenhuma denúncia nova, porque as acusações dele são sempre recorrentes", diz o tucano. O mercado financeiro também não dá mostras de nervosismo. A consultoria Tendências, comandada pelo ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega, avaliou nesta segunda-feira, no relatório do dia que, "dificilmente", o senador dará uma guinada para a oposição no discurso, ou trará "ataques vorazes" contra o governo. Para os economistas da Tendências, a cena política continuará sob "forte turbulência" por causa do impacto do racionamento de energia sobre a popularidade do governo. "Não há tensão nenhuma de parte do governo, só a de energia", brinca o ministro, ao destacar que o governo levará "vida normal" nesta quarta-feira e que não vê razões para o País parar para ver e ouvir o discurso de ACM. De fato, o que mais preocupa o presidente é mesmo a ameaça de apagão. Tanto que ele cancelou uma viagem que faria no fim da tarde desta segunda-feira ao Rio, para participar da cerimônia de posse dos novos membros da Academia Brasileira de Ciências, exatamente com o objetivo de ir à reunião sobre a crise de energia com as entidades de defesa do consumidor. Fernando Henrique também riscou da agenda a viagem que faria quarta-feira ao Maranhão para inaugurar obras do Ministério dos Transportes, da mesma forma que havia decidido suspender a visita oficial à Rússia e Ucrânia, marcada para fim de junho. O único compromisso internacional mantido na agenda de junho é a reunião semestral do Mercado Comum do Sul (Mercosul), prevista para o dia 20, em Assunção. "O presidente quer acompanhar em detalhe toda a movimentação do governo para solucionar a crise energética", explica um assessor palaciano.

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