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Planalto dá aval a 'Casa Civil' paralela

Consultoria McKinsey & Company, paga por empresários da Câmara de Gestão, tem acesso a dados de programas do governo e servidores

Por Iuri Dantas
Atualização:

Uma das maiores consultorias empresariais do mundo, a McKinsey & Company, ganhou acesso a dados produzidos por ministérios, submeteu servidores da Presidência a questionários sobre desempenho e vem atuando desde outubro do ano passado sob um manto de sigilo em duas salas do Palácio do Planalto. Tanto poder concentrado rendeu aos ocupantes das salas 101 e 103 do Anexo do Planalto o apelido de "Casa Civil do B".

 

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O objetivo da consultoria, contratada por um grupo de empresários, é sugerir ferramentas de avaliação e monitoramento de políticas públicas.

 

A atuação dos dez consultores destacados pela McKinsey para o trabalho reflete o estilo e ritmo que a presidente Dilma Rousseff tenta impor ao Executivo federal, segundo fontes palacianas. Por ordem da titular do Planalto, além da estrutura normal da Casa Civil, está em gestação um sistema de monitoramento em tempo real dos programas prioritários do governo.

 

Mas as opções de Dilma não seguem o protocolo. A McKinsey não foi escolhida por concorrência pública, nem sequer aparece no Diário Oficial da União: a consultoria faz parte de um acordo de cooperação técnica da Casa Civil com o Movimento Brasil Competitivo (MBC).

 

O escopo do trabalho se choca com atribuições de órgãos do governo, como o Ministério do Planejamento e a Controladoria-Geral da União. Procurada, a McKinsey não se pronunciou.

 

Segundo assessores, Dilma tenta, com a medida, aperfeiçoar a gestão do serviço público e tornar a atuação de gestores mais transparente, com acompanhamento online de obras e projetos.

 

Dados do Planejamento confirmam que em seu primeiro ano de governo a sucessora de Luiz Inácio Lula da Silva quase dobrou o gasto com consultorias externas, de R$ 593 milhões para R$ 1,2 bilhão.

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Escolha. A parceria com a McKinsey foi sugerida no dia 7 de julho do ano passado, durante uma reunião de seis horas entre os empresários da Câmara de Políticas de Gestão, Desempenho e Competitividade e a ministra Gleisi Hoffmann. O órgão serve para debater soluções para a gestão pública, sendo integrado pelos empresários Abílio Diniz, Antonio Maciel Neto e Henri Philippe Reichstul. O industrial Jorge Gerdau preside o grupo.

 

Dilma vetou o gasto de dinheiro público com a consultoria, mas aceitou que empresários do MBC custeassem o trabalho, estimado em R$ 7 milhões. Segundo fontes ouvidas pelo Estado, a McKinsey passou, a partir daí, a receber informações sobre os principais projetos do governo.

 

A Casa Civil nega acesso a dados sensíveis, mas informou que a consultoria tem a praxe de assinar acordos de confidencialidade em todos os seus contratos.

 

Nos bastidores, servidores de carreira questionam a versão da equipe da ministra Gleisi e dizem que os consultores conseguem dados e têm acesso a autoridades de alto escalão enquanto recebem salário do setor privado, criando conflitos de interesse. A agenda de Gleisi registra seis encontros com a consultoria.

 

A McKinsey não analisa só programas considerados prioritários pelo Planalto, mas também a própria Casa Civil. No ano passado, todos os funcionários de carreira foram submetidos a questionário pela consultoria. O procedimento gerou críticas e protestos internos. O objetivo, dizem fontes do Planalto, era verificar o desempenho e a necessidade de alguns cargos na estrutura da Casa Civil.

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