Os investigadores da Polícia Federal em Minas Gerais vão se concentrar, a partir de domingo 22, na análise dos documentos apreendidos em sete Estados e no Distrito Federal durante a Operação João de Barro, deflagrada na sexta-feira, 20. Os agentes querem, de posse de novos dados, reforçar o pedido feito à Justiça Federal para prender os prefeitos envolvidos no esquema de desvio de recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para a construção de casas populares e obras de saneamento básico. Veja também: PF prende grupo por desvio do PAC Os pedidos de prisão já foram encaminhados aos tribunais regionais federais. No entanto, até o início da operação, nenhum deles foi autorizado pela Justiça. Por isso, a PF decidiu cumprir os mandatos de que já dispunha - de busca e apreensão e prisão de 38 funcionários públicos, lobistas e empresários - e esperar, para uma segunda etapa, por uma decisão da Justiça em relação aos prefeitos. Todos documentos apreendidos nos sete Estados e no DF foram encaminhados para a Superintendência da Polícia Federal em Belo Horizonte (MG), onde as investigações vão se concentrar. As 26 pessoas presas na operação foram também transferidos na sexta-feira à noite para Minas Gerais. Parte dos presos já foi ouvida pelos delegados responsáveis. Os demais começarão a ser ouvidos nesta segunda-feira. A PF pretende ainda prender outras 12 pessoas nos próximos dias, completando assim os 38 mandados de prisão expedidos pela Justiça Federal e de 1ª instância. Duas delas já entraram em contato com a PF e adiantaram que devem se entregar no início da semana. Todos devem ficar presos por pelo menos cinco dias para a instrução penal. A PF pode pedir à Justiça a prorrogação desse prazo se considerar necessário mantê-los presos para prosseguir as investigações. Total desviado A análise dos documentos também é apontada pelos investigadores como essencial para descobrir quanto de fato a organização criminosa desviou dos recursos públicos do PAC. Por enquanto, a PF sabe apenas que as empresas envolvidas controlavam obras em 119 municípios num total de R$ 700 milhões e pretendia desviar mais R$ 2 bilhões, entre recursos liberados por emendas parlamentares e financiamentos da Caixa e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Dados preliminares da Polícia Federal mostraram também que os deputados investigados, Ademir Camilo (PDT-MG) e João Magalhães (PMDB-MG), apresentavam emendas para cidades que controlavam e onde a organização atuava em troca de propina equivalente a 10% do valor da obra. A PF só não pediu a prisão dos parlamentares porque, legalmente, os deputados só podem ser presos em caso de flagrante e de crimes inafiançáveis. E os indícios que pesam contra eles - de corrupção passiva, concussão, tráfico de influência e formação de quadrilha - não se enquadram nessa regra. O esquema desbaratado pela PF começou a ser investigado pelo Tribunal de Contas da União (TCU) em 29 municípios. De acordo com a apuração da PF, os empresários e lobistas manteriam sob seu controle funcionários públicos, encarregados de analisar os projetos de interesse das empresas e repassar informações privilegiadas. Quando a verba estava prestes a ser liberada, os lobistas ou parlamentares, ainda segundo a PF, faziam a aproximação dos empresários com os prefeitos. Dava-se então o direcionamento das licitações. As empresas entregariam obras com padrão de qualidade abaixo do combinado. O dinheiro não gasto seria rateado entre os envolvidos: empresários, prefeitos, servidores, fiscais e parlamentares.