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PF rastreia projetos de Dantas no Pará

Banqueiro abriu frente de negócios em áreas protegidas

Foto do author Marcelo Godoy
Por Marcelo Godoy e Rodrigo Pereira
Atualização:

A Polícia Federal (PF) rastreia investimentos feitos pelo banqueiro Daniel Dantas em áreas de mineração no Pará, localizadas em terras de preservação ambiental e em reservas indígenas. O relatório do delegado Protógenes Queiroz, responsável pela Operação Satiagraha, levanta suspeita sobre a "idoneidade dos projetos de exploração de minérios" e faz referência à "grande quantidade de áreas de preservação indígena ou ambiental". Para ele, "há indícios de lavagem de capitais na aplicação desses recursos". Os investimentos do grupo são um dos principais focos do inquérito da PF. A análise dos investimentos já provocou o indiciamento de Dantas, sob as acusações de formação de quadrilha e gestão fraudulenta. O Grupo Opportunity admite que possui áreas de mineração na Reserva Biológica de Tapirapé e em áreas indígenas do Estado. Mas também reconhece que não tem autorização para explorá-las e por isso não desenvolve nenhuma atividade nesses territórios. No caso da reserva biológica, é necessário obter autorização das instituições da área ambiental; e no caso da terra indígena, a legislação veda a exploração do subsolo. Isso pode mudar, no entanto, com a aprovação de um projeto que tramita no Congresso, regulamentando a exploração de minérios em terras indígenas. Durante as investigações da Satiagraha, ficou claro, segundo Protógenes, que a empreitada na área de mineração seria comandada por Dantas, por meio da GME4 (Global Miner Exploration), empresa recém-criada e presidida por Paulo Rogério Campos Magalhães. O Opportunity teria 62% das ações da empresa. Caberia ao ex-cunhado do banqueiro, apontado como "gerente financeiro da organização", Carlos Bernardo Torres Rodenburg, "manter contato com pessoas interessadas na venda de imóveis rurais nos Estados do Pará e Piauí". Em gravação obtida com ordem judicial, Rodenburg trata da aquisição de 1.800 alqueires "integrantes da Floresta Nacional do Itacaiúnas", no Pará. O Opportunity informou ter uma fazenda chamada Floresta e outra chamada Itacaiúnas no Pará, mas desconhece a tal floresta nacional. Segundo informações do governo do Pará, "a Floresta Nacional de Itacaiúnas fica ao lado da Flora Carajás". De acordo com a linha de raciocínio do delegado, o grupo deveria recorrer ao "tráfico de influência" para obter as autorizações, alvarás e concessões para a exploração de minérios nas áreas que vinha adquirindo. O grupo também estaria planejando obter a aprovação de um projeto para construir um porto no Pará - para depois repassar o projeto a grupos estrangeiros. O governo do Pará negou a existência do projeto. Segundo a PF, a sondagem era feita pela GME4, sob o manto de investimento em pesquisa em mais de mil glebas distribuídas em onze Estados, "totalizando quatro milhões de hectares de terra". Outra interceptação telefônica feita pela PF detectou, no dia 21 de maio, uma conversa entre Humberto José da Rocha Braz - um dos homens flagrados oferecendo US$ 1 milhão ao delegado Vitor Hugo Ferreira para livrar Dantas do inquérito - e uma pessoa identificada como Gilberto. A PF suspeita, mas não apresenta provas, que se trata de Gilberto Carvalho, chefe de gabinete da Presidência da República - flagrado na mesma investigação, em outra conversa, com o advogado Luiz Eduardo Greenhalgh. "Tá decidido aqui fazer em duas vezes a consultoria dele lá... conta-curral." Em seguida, Braz é ainda mais explícito: "Cinqüenta por cento já e 50% na hora que for aprovado lá no meio ambiente." A PF suspeita, mas não apresenta provas, que conta-curral pode "significar pagamento no exterior com sonegação de impostos e evasão de divisas". Ainda segundo a PF, o banqueiro estaria migrando das telecomunicações para projetos de mineração e agropecuária na Região Norte. NOTA OFICIAL O Grupo Opportunity tem 130 áreas de mineração no Pará, mas apenas 5 delas em área ambiental ou indígena. É o que informou o grupo por meio de nota oficial. Todas essas terras são controladas por uma das empresas do grupo: a GME4 que, por enquanto, não tem autorização para atuar nessas áreas. Portanto, diz o grupo, não há atividade nessas terras.

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