PF poderá investigar ligação de Dirceu com prefeito preso

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Por Eduardo Kattah
Atualização:

A Polícia Federal (PF) admitiu hoje que um inquérito poderá ser instaurado para apurar uma suposta relação entre o ex-ministro José Dirceu e o prefeito de Juiz de Fora, Carlos Alberto Bejani (PTB), preso ontem na Operação de Volta para Pasárgada, resultante da análise do material da Operação Pasárgada, que apura um esquema envolvendo prefeituras de liberação irregular de verba do Fundo de Participação dos Municípios (FPM). Um vídeo apreendido mostra que o Bejani se encontraria com o ex-ministro da Casa Civil para negociar a liberação de R$ 70 milhões - que garantiria uma "comissão" de R$ 7 milhões. No vídeo, o prefeito se refere a um financiamento da Caixa Econômica Federal (CEF) aprovado pelo Ministério das Cidades para obras no rio Paraibuna, que corta Juiz de Fora, como parte do programa Saneamento Para Todos do governo federal. A gravação divulgada ontem pelo site da revista Época teria sido feita no dia 10 de maio de 2006. Bejani, enquanto contava dinheiro supostamente de propina paga pelo empresário do setor de transporte coletivo Francisco José Carapinha, o Bolão, afirma que horas depois se encontraria com Dirceu em Belo Horizonte para tratar da liberação. O ex-ministro e já deputado cassado visitou a capital mineira no mesmo dia, quando atendeu um convite do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) para ministrar palestra sobre a mídia e a crise política. Na ocasião, Dirceu foi bastante hostilizado e chamado em coro de "ladrão" pelos estudantes. O delegado regional de Combate ao Crime Organizado, Alessandro Moretti, considerou a citação de Bejani um fato "apartado" das investigações que envolvem a Operação Pasárgada. Moretti explicou que o conjunto de vídeos apreendido em abril - quando foram presas 50 pessoas, entre elas o próprio Bejani, outros 16 prefeitos e um juiz federal - foi analisado recentemente e a Corregedoria ainda não decidiu sobre a abertura de inquérito. ''Simulação'' Em depoimento à PF, Bejani, segundo seu advogado, Marcelo Leonardo, negou que tivesse se encontrado com Dirceu no dia 10 de maio e disse que a suspeita de pagamento de propina na liberação do financiamento não tinha "nenhuma pertinência nem procedência". O advogado disse que o prefeito e Bolão sustentaram nos seus depoimentos a versão de que a filmagem constitui uma "simulação" que seria apresentada a um empresário de Juiz de Fora "que estava oferecendo alta quantia em dinheiro para obter provas contra o prefeito para serem utilizadas na campanha eleitoral municipal". "Cientes disso, ambos concordaram em fazer aquelas filmagens em oportunidades e dias diferentes, com roupas diferentes, etc. Quando a pessoa fosse comprar, eles chamariam a polícia para fazer a prisão", afirmou o advogado, que não confirmou se seu cliente citou para a polícia o nome do empresário que supostamente estaria comprando provas contra ele.

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