PUBLICIDADE

PF pede quebra de sigilo de Protógenes

Corregedoria investiga delegado por supostos abusos durante ação

Foto do author Fausto Macedo
Por Fausto Macedo
Atualização:

A Polícia Federal pediu a quebra do sigilo telefônico do delegado Protógenes Queiroz, mentor da Satiagraha - investigação contra o banqueiro Daniel Dantas, do Grupo Opportunity. A PF quer identificar chamadas e mensagens feitas e recebidas por Protógenes durante período de 5 meses, entre julho e novembro de 2008. Ele é o alvo maior de inquérito da Corregedoria da PF que corre sob segredo de Justiça. O inquérito apura supostos abusos do delegado que prendeu Dantas duas vezes, no auge da Satiagraha. O acesso aos contatos reservados do delegado é o passo final da PF no cerco que realiza a Protógenes. O rastreamento pedido à Justiça Federal abrange todas as suas linhas fixas e móveis. A PF atribui a Protógenes quebra de sigilo funcional, emprego ilegal de arapongas da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e monitoramento clandestino de autoridades, políticos, advogados e jornalistas. Dados apurados pela PF mostram que podem ter caído na malha fina de Protógenes o senador Heráclito Fortes (DEM-PI), o ministro Geddel Vieira (Integração Nacional), a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), o ex-ministro José Dirceu, o secretário particular do presidente Lula, Gilberto Carvalho, e o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes, entre outros. Aos arapongas da Abin, estranhos aos quadros da PF, o delegado confiou trabalhos de escuta e análise de documentos protegidos pelo sigilo. Pelo menos 84 agentes e oficiais de inteligência foram mobilizados na Satiagraha. A Corregedoria quer mapear os contatos de Protógenes porque pretende descobrir com quem ele se comunicou na véspera da Satiagraha e nos dias que antecederam as buscas em seus endereços. As buscas ocorreram na madrugada de 5 de novembro e atingiram 5 apartamentos de Protógenes e seus familiares, em São Paulo, no Rio e em Brasília. Na ocasião, a PF apreendeu celulares, lap top e dois pen drives de seu uso pessoal. Peritos federais abriram os arquivos secretos de Protógenes e reconstituíram seus passos e métodos de ação. A PF está convencida de que o delegado fez espionagem sem respaldo judicial Os pen drives - um de 2 gigabytes, outro de 8 - foram localizados no apartamento 2.508 do Hotel Shelton Inn, no centro de São Paulo, ocupado pelo delegado. Para decodificar o conteúdo das pastas, os peritos recorreram ao Sistema de Acesso Remoto de Dados, técnica empregada nesse tipo de varredura. Alguns arquivos ainda não foram deslacrados porque estão criptografados. A PF já produziu três relatórios confidenciais sobre Protógenes. Os documentos formam a principal prova contra o delegado, que deverá ser indiciado criminalmente. Documento interno da corporação indica envolvimento do criador da Satiagraha em "delitos de extrema gravidade" - vazamento de informações antes da deflagração da operação; ocorrência de gravações clandestinas de vídeo e áudio; filmagens e interceptação de conversas telefônicas e possível escuta ambiental; uso de senhas concedidas exclusivamente a agentes da PF, mas intensamente utilizadas por servidores da Abin. Outro relatório confidencial da PF aponta em 12 páginas como o delegado agiu sem respaldo judicial e mobilizou agentes e oficiais da Abin para a Satiagraha. São transcritos trechos de depoimentos de arapongas e colegas do próprio Protógenes.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.