PF já sabe que Protógenes despachava na Abin

Delegado afastado da missão que levou Dantas à prisão volta ao trabalho no fim do mês

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Por Rui Nogueira
Atualização:

A corregedoria da Polícia Federal (PF), que investiga o trabalho da Operação Satiagraha, descobriu mais uma faceta da aliança do delegado Protógenes Queiroz com os arapongas da Agência Brasileira de Inteligência - pelo menos 80 agentes da Abin participaram da operação. Segundo depoimentos colhidos pelo delegado Amaro Vieira Ferreira, da corregedoria, Protógenes despachou várias vezes na sede da Abin, em Brasília, durante o tempo em que comandou a Satiagraha. A operação investigou indícios de lavagem de dinheiro e outros crimes financeiros, como evasão de divisas e formação de quadrilha, além da tentativa de suborno de um delegado da PF. No dia 8 de julho, com autorização judicial, a Satiagraha prendeu 17 pessoas, entre elas o banqueiro Daniel Dantas, dono do Banco Opportunity - dois habeas corpus, concedidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF), mantêm Dantas em liberdade. Nos últimos dias, a corregedoria colheu mais provas de como Protógenes usava agentes e a infra-estrutura da Abin, sonegando todas as informações dos superiores da PF. Em pelo menos uma das reuniões na sede da Abin foi feito o planejamento de uma investigação deflagrada depois em Brasília e que vigiou autoridades federais do Legislativo e do Judiciário. Entre os colegas da PF, pela quantidade de entrevistas e de palestras que vem concedendo - sempre se comportando como "justiceiro social" - e pela precariedade do relatório escrito antes de ser afastado da chefia da Operação Satiagraha, Protógenes está sendo comparado ao procurador Luiz Francisco de Souza. O procurador ficou famoso pelas investigações superficiais e quase sempre sem resultados concretos durante o governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). O Estado apurou junto a agentes que participam do inquérito da corregedoria que, em grande parte, o relatório de Protógenes limitou-se a copiar e a recondicionar informações da Operação Chacal, a investigação que deu origem à Operação Satiagraha. Foi na Operação Chacal que a PF apreendeu o disco rígido de um dos sistemas de informática que serviam ao banqueiro Daniel Dantas e ao Opportunity. A corregedoria da PF formou a convicção de que a Satiagraha, sob comando de Protógenes e "proteção" do diretor-geral afastado da Abin, o ex-chefe da PF Paulo Lacerda, era uma operação pautada, em parte, por interesses políticos que remontam ao primeiro mandato do presidente Lula (2003-2006), quando estourou o mensalão e os negócios de lobby do banqueiro do Opportunity se tornaram evidentes. As empresas Telemig Celular e Amazônia Celular, que tinham o Opportunity como acionista, eram, segundo a CPI dos Correios, depositantes freqüentes de grandes somas nas contas do publicitário Marcos Valério, apontado como operador do mensalão.

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