PF investiga seu superintendente em SP

O superintendente da Polícia Federal em São Paulo, Francisco Baltazar da Silva, é apontado como um dos beneficiários de uma das maiores quadrilhas de lavagem de dinheiro do País

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Por Agencia Estado
Atualização:

Depois de afastar da Superintendência de São Paulo 12 delegados, apanhados em operações de combate à corrupção, lavagem de dinheiro e improbidade administrativa, a Polícia Federal volta suas baterias agora contra o próprio superintendente regional, Francisco Baltazar da Silva. O nome dele foi encontrado na lista dos que seriam beneficiários de uma das maiores quadrilhas de lavagem de dinheiro do País, comandada pelo doleiro Antônio Oliveira Claramunt, o Toninho da Barcelona, dono das empresas de fachada Barcelona Turismo e Pássaro Turismo. Um grande esquema de lavagem de dinheiro A apreensão do programa de software que gerenciava as operações de câmbio das duas empresas, batizado de Bater, revelou o que seria a ponta do iceberg de um megaesquema de lavagem de dinheiro originário da corrupção, envolvendo magistrados, membros Ministério Público, funcionários públicos e pelo menos oito delegados da Polícia Federal, entre os quais Baltazar. A denúncia já está na mesa do juiz da 6.ª Vara Federal de São Paulo, Élio Egídio e foi encaminhada também ao procurador-geral da República, Cláudio Fonteles, que deverá mandar desmembrar o inquérito para aprofundar essa nova linha de investigação. De acordo com a contabilidade de Toninho da Barcelona, o Baltazar teria movimentado US$ 134,6 mil em 2003. O software que conteria o esquema de lavagem foi apreendido em março de 2003 com os computadores do doleiro. O esquema envolve gestão fraudulenta, remessa ilegal de divisas para o exterior e formação de quadrilha. O nome de Baltazar foi identificado pela PF a partir do codinome BALTA, graças à qualificação (delegado da PF), acompanhada do número do seu telefone celular. Já foi identificado também outro dos oito delegados, Mário Sérgio Abdo. A perícia está checando a identidade dos demais. Baltazar está na mira do governo federal em razão do elevado índice de envolvimento de homens de sua confiança com atividades criminosas investigadas pela própria PF. Nas últimas operações, como a Anaconda, doze deles foram presos, indiciados ou afastados das funções mediante suspeita de envolvimento. O superintendente aceitou uma intervenção branca na sua administração e afastou dez auxiliares. Baltazar deveria dar posse aos novos chefes de setor amanhã, mas será chamado a Brasília e provavelmente será incluído na limpa promovida na corporação. Todos os novos dirigentes da superintendência da PF em São Paulo estão sendo submetidos a uma checagem completa do setor de inteligência do governo e ao crivo tanto do diretor-geral da PF, Paulo Lacerda, como do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos. Ontem, o superintendente Baltazar não foi encontrado pelo Estado para comentar a denúncia. Os auxiliares de Baltazar foram apanhados em operações sigilosas de combate ao crime organizado realizadas em São Paulo pela própria PF sem o conhecimento prévio do superintendente. Os dois últimos, presos na Operação Lince, foram José Bocamino, delegado de Ribeirão Preto, e seu principal auxiliar, delegado Wilson Perpétuo. Bocamino era pessoa da alta confiança do superintendente. Baltazar é amigo de longa data do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para quem trabalhou como chefe de segurança nas quatro campanhas eleitorais. Lista longa de delegados afastados Apesar dos vetos da inteligência da PF, Baltazar manteve as nomeações dos delegados depois afastados por envolvimento em denúncias. Entre os destituídos está o delegado Nivaldo Bernardi (Defesa Institucional), investigado pela Operação Anaconda, que desmantelou no início do ano uma poderosa rede de proteção ao contrabando e ao tráfico internacional. A lista inclui ainda os delegados Mauro Sales Ávila (Crimes Fazendários) e Luiz Roberto Martins (Delegacia Regional Executiva), segundo na hierarquia em São Paulo. Com sinais exteriores de riqueza e citados em algumas investigações internas, os três tiveram seus nomes vetados pela inteligência da PF. Também foram destituídos os delegados Marco Antônio Veronezi (Imigração), Sílvio Crote (Repressão a Crimes Financeiros), Carlos Tadeu Tasso (Repressão ao Tráfico de Armas) e Antônio Carlos Camilo Linhares (Crimes Previdenciários).

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