PF investiga quem lucrou com Dossiê Cayman

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Por Agencia Estado
Atualização:

A Polícia Federal está investigando dois megaespeculadores, conhecidos no mercado financeiro brasileiro, que teriam lucrado com a divulgação do chamado Dossiê Cayman, que atribuía ao presidente Fernando Henrique Cardoso e ministros do governo a posse de contas bancárias em paraíso fiscal. A PF confirmou nesta semana que os documentos eram falsos. Além dos especuladores, nove políticos tiveram conhecimento dos papéis, sendo que cinco deles compraram o dossiê com o intuito de fazer chantagem, usá-los politicamente e até mesmo causar queda do Real com sua divulgação. Desde fevereiro de 1999 a PF tinha indícios de que pelo menos dois dos acusados montaram o dossiê: Honor Rodrigues da Silva e Ney Lemos dos Santos, que moram em Miami, haviam sido citados em um depoimento do advogado Paulo Sérgio Braga Barbosa. Mas, por causa da denúncia do Ministério Público Federal contra o ex-prefeito Paulo Maluf, o ex-presidente do Banco do Brasil Lafaiete Coutinho e o pastor protestante Caio Fábio, o inquérito teve que ser encerrado e reaberto no dia 13 de março passado. Segundo as investigações da PF, inicialmente o dossiê foi montado e encaminhado para políticos brasileiros - cujos nomes não são revelados - para uso eleitoral. Cinco deles demonstraram interesse no conjunto de papéis e chegaram a comprá-los. Outros quatro apenas tiveram conhecimento dos documentos, mas se recusaram a utilizá-los. A partir daí, conforme a PF, o interesse eleitoral passou para chantagem das pessoas que supostamente estariam envolvidas com contas em paraísos fiscais no Caribe. Mas, em seguida, o interesse foi fazer a divulgação dos papéis e causar a queda do Real, causando uma grande especulação no mercado financeiro. A PF continua investigando dois megaespeculadores conhecidos do mercado financeiro que foram beneficiados pelo esquema. Atualmente, a Divisão de Repressão ao Crime Organizado e Inquéritos Especiais (Decoie), da Polícia Federal, está levantando a movimentação do mercado do dólar na época para verificar o quanto cada um dos especuladores lucrou com a divulgação do dossiê Cayman. "Os papéis foram usados para cometer crime contra o sistema financeiro", confirma o delegado Paulo de Tarso Teixeira, que comanda as investigações. Não caberá ao delegado Paulo de Tarso Teixeira investigar as razões que levaram o ex-diretor da PF Vicente Chelotti a não incluir no primeiro inquérito sobre o dossiê Cayman, uma carta onde a empresa Trident Corporate Services, especializada em abrir empresas em paraísos fiscais, inocentava o presidente Fernando Henrique Cardoso. A Trident confirmou que o presidente não tinha envolvimento com a CH,J&T Inc. o suposto empreendimento de Fernando Henrique em sociedade com os ministros da Saúde, José Serra, das Comunicações, Sérgio Motta (morto em 1998), e o governador Mário Covas, morto neste ano. Segundo fontes da PF, o caso será apurado pela corregedoria-geral da PF, mas há poucas chances de Chelotti ser responsabilizado por isso. Uma das alegações é que, apesar de ser um documento que praticamente inocenta o presidente, ele foi feito pela empresa que criou a CH,J&T. Mesmo assim, o ex-diretor teria que apresentar a carta ao delegado responsável pelo caso, para ser anexada ao inquérito. Chelotti chegou a viajar aos Estados Unidos e Caribe para cuidar pessoalmente das investigações, em 1999. As investigações sobre o dossiê foram divididas em dois inquéritos, sendo que o primeiro, aberto em 99, durou 70 dias e foi encerrado com a pronúncia do Ministério Público Federal. No início deste ano, novas denúncias fizeram com que o delegado Paulo de Tarso Teixeira e Jorge Barbosa Pontes, da Interpol (Polícia Criminalística Internacional), reabrissem o caso, descobrindo que os três principais autores do dossiê foram Honor Rodrigues da Silva, João Roberto Barusco e Ney dos Santos. Além disso, as investigações apontam como integrantes do grupo Oscar de Barros, dono de uma empresa especializada na abertura de firmas em paraísos fiscais, e José Maria Teixeira Ferraz, que seria, conforme a PF, o idealizador dos documentos.

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