PF investiga cerceamento a candidatos em favelas do Rio

TRE recebeu várias denúncias de que traficantes e milícias impedem campanha de candidato concorrente

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Por Rodrigo Viga Gaier
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A Polícia Federal está investigando o cerceamento a candidatos que tem encontrado dificuldades em fazer campanha eleitoral no Rio de Janeiro em favelas e comunidades carentes dominadas por traficantes e milícias. A PF recebeu as primeiras denúncias há cerca de 20 dias e começou a apurar possíveis infrações à lei eleitoral. Veja também: Juízes divulgam lista de candidatos 'ficha-suja' ENQUETE: Lista ajuda a escolher candidatos?  Saiba quem são os candidatos com a ficha suja  Pesquisa Ibope - Rio de Janeiro  Conheça os candidatos nas principais capitais  Especial tira dúvidas do eleitor sobre as eleições    "O que a Polícia Federal investiga não é atuação de milícia ou traficante. O que se investiga é a existência de crime eleitoral", disse o superintendente da PF do Rio, Valdinho Jacinto Caetano. "Quem impedir um candidato de fazer sua campanha pode ser preso em flagrante", acrescentou. O Tribunal Regional Eleitoral do Rio recebeu várias denúncias de candidatos que foram impedidos de entrar em comunidades carentes e favelas do Rio, alegado ser determinação de traficantes e milícias que estariam fazendo campanha para um candidato concorrente. O coordenador estadual do TRE, Luis Márcio Pereira, que acompanha as denúncias encaminhadas ao Tribunal, participou diretamente das investigações que resultaram na prisão nesta terça-feira do deputado estadual Natalino José Guimarães (DEM). Ele é acusado de dominar uma milícia conhecida como Liga da Justiça que controla favelas da zona oeste da cidade. O irmão dele, Jerônimo Guimarães Filho, o Jerominho (PMDB), já tinha sido preso pela mesma acusação. A milícia dos irmãos Natalino e Jerominho atuaria também em atividades irregulares como TV a cabo clandestina, revenda de gás de cozinha e transporte alternativo irregular. O grupo páramilitar movimentaria cerca de 5 milhões de reais ao mês. "Eles têm objetivos políticos audaciosos. O próximo passo seria tentar eleger um senador com apoio da milícia", declarou o delegado da polícia civil, Marcus Neves, responsável pelas investigações. Nesta terça-feira, a candidata a vereadora Ingrid Gerolich (PT), fez campanha na favela da Rocinha acompanhada por policiais militares e fiscais do TRE. Ela temia constrangimentos durante a panfletagem em razão da acirrada disputa na comunidade que tem ao menos quatro candidatos a vereador. "Pela lei, qualquer candidato pode fazer campanha onde quiser", disse a candidata que sugeriu que seu principal adversário, conhecido como Claudinho da Academia, teria a simpatia de traficantes da Rocinha. "Aqui não há constrangimento a ninguém. Tem pelo menos outros quatro candidatos que atuam livremente", declarou Claudinho, que é presidente da associação de moradores da Rocinha. Campanha perigosa Candidatos a prefeito informaram que ainda não tiveram a campanha cerceada, mas avaliam que a corrida eleitoral no Rio é bastante delicada e perigosa. "Até o momento não tive nenhuma dificuldade, mas não podemos negar que é uma campanha perigosa, muito perigosa", afirmou o deputado federal e candidato Fernando Gabeira (PV) à Reuters. "Essa história atrapalha a campanha de todos, menos daqueles que eles (traficantes e milicianos) acham que devem entrar", acrescentou Gabeira, que já visitou as comunidades da Rocinha, Vidigal, Mará e Alemão. O deputado estadual Alessandro Molon (PT) frisou que o direito de ir e vir está comprometido para todos que vivem no Rio de Janeiro. "A cidade está perigosa para todos não só para os candidatos. O direito constitucional não está sendo garantido no Rio. Eu ainda não me deparei com esse problema na minha campanha, mas certamente vai acontecer", disse Molon, que visita as favelas do Rio a convite da militância do PT.

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