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PF indicia prefeito de Florianópolis e mais 16 por vazamento de operações

Gean Loureiro (sem partido) nega acusações. Investigação afirma que organização oferecia serviço de contrainteligência de sala segura a políticos em troca de vantagens.

Por Fábio Bispo
Atualização:

FLORIANÓPOLIS - A Polícia Federal de Brasília pediu o indiciamento do prefeito de Florianópolis, Gean Loureiro, que foi eleito pelo MDB mas está sem partido, e outras 16 pessoas no relatório final da Operação Chabu. A investigação foi concluída na sexta-feira, 6, e aponta troca de favores e o beneficiamento de políticos com informações privilegiadas vazadas de dentro da Polícia Federal. O relatório será encaminhado à Justiça Federal em Porto Alegre por conta do foro privilegiado de Loureiro. O prefeito alega inocência.

A operação Chabu, deflagrada em 18 de junho deste ano, investigou a existência de uma suposta organização criminosa que conseguia furar o sigilo de operações policiais em território catarinense. O grupo seria formado por formado por policiais federais, empresários e políticos. A investigação durou três anos e resultou em um relatório de cerca de 500 páginas.

Prefeito de Florianópolis, Gean Loureiro Foto: CRISTAINO ANDUJAR

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A investigação apontou ligação entre Loureiro e o empresário José Augusto Alves, apontado como operador do esquema. Alves era quem recebia informações sigilosas e negociava com o núcleo político como serviço de contra-espionagem. Operações eram compartilhadas antes mesmo de serem deflagradas.

Segundo aponta o relatório, Alves intercedeu ao prefeito para garantir nomeações para a própria filha, para um coronel da PM e um delegado da Civil. Alves também teria sido o responsável por negociar a chamada “sala segura”, à prova de escutas e de grampos, com o prefeito. O prefeito de Florianópolis já havia sido preso em 18 de junho, quando a operação foi deflagrada, e acabou liberado no mesmo dia.

O relatório lista uma série de diálogos travados entre os investigados, principalmente por mensagens de texto e voz. Nessas conversas são apontados indícios de trocas de favores, como pedidos de nomeações de Alves diretamente ao prefeito. Em um desses diálogos, um dos membros da organização pede ao prefeito a permanência da mulher de um dos policiais federais envolvidos no esquema: “Se puder! O marido dela é responsável de um órgão muito importante para nós. Daí explico pessoalmente. Nossa segurança. Não é questão política !! Mas muito importante para a política!”.

Gean também teria recebido o delegado da Polícia Federal, Fernando Caieron, para direcionar assinatura de convênio com um instituto de desenvolvimento científico e tecnológico.

Prefeito nega crimes

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Em coletiva de imprensa na manhã deste sábado, 7, o prefeito Gean Loureiro voltou a dizer que é inocente e disse que o relatório final não “trouxe fatos novos”. Gean negou a sala secreta. “Eles continuam insistindo que a essa sala existe”.

Questionado sobre os diálogos que apontam pedidos para nomeações de pessoas ligadas à organização para manter “segurança”, o prefeito diz que a nomeação se deu por conta da segurança pública da cidade:

“Quando se tem uma mudança de governo é natural muitos solicitarem nomes para ocupar as funções. A polícia presenta isso como um crime cometido. Não tem nenhuma relação, não tem tipicidade, caracterização de crime. O que foi apresentado que ele era um profissional da segurança e que isso importante para se ter acesso a alguém da Polícia Rodoviária Federal”, disse o prefeito.

O prefeito ainda disse que os crimes apontados na peça não têm relações concretas com os fatos apresentados. “Sala segura não representa corrupção”, disse. “Nenhum dos indícios de que eu estaria envolvido em alguma ação ilícita de corrupção passiva ou desvio de recursos públicos foi confirmada. A expectativa é que o processo acabe sendo arquivado”, declarou.

Em nota divulgada neste sábado, os advogados de José Augusto, Rycharde Farah e Rodolfo Macedo do Prado, dizem que a investigação é “baseada baseada em achismos" e que "pretende criminalizar a política, como se boas relações entre pessoas do mundo privado e público sejam necessariamente criminosas". Eles reafirmaram a inocência de José Augusto.

A defesa do delegado Fernando Caieron e Marcelo Roberto Paiva Winter só irão se manifestar nos autos do processo.

Os indiciados responderão pelos crimes de corrupção ativa e passiva, extorsão, contrabando e obstrução da Justiça.

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