PF indicia Jefferson por formação de quadrilha nos Correios

Com base em seu livro Nervos de Aço, deputado cassado foi acusado de formação de quadrilha. Ele teria montado esquema de cobrança de propinas na estatal

Por Agencia Estado
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A Polícia Federal indiciou nesta quarta-feira o deputado cassado Roberto Jefferson, presidente nacional do PTB, no inquérito sobre denúncias de irregularidades na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT). Jefferson deu um depoimento de quase duas horas na PF. Ele recebeu do delegado Luiz Flávio Zampronha a notificação de que estava indiciado por formação de quadrilha, sob acusação de ter montado um esquema de cobrança de propinas na estatal. A PF informou que o indiciamento baseou-se em critério técnico, no depoimento de três empresas que confirmaram ter pago propina ao esquema e na constatação de que Jefferson indicou pessoas não para trabalhar nos Correios, mas para levantar fundos para o seu partido. Outra prova juntada aos autos é o depoimento à CPI dos Correios, em que o próprio Jefferson afirma que é prática comum aos partidos angariar fundos em estatais, como fez o PTB. Jefferson declarou-se "injustiçado" e "vítima do marketing policial" do governo Lula. "É muito triste. Foi uma acusação subjetiva", disse. Segundo o ex-deputado, o indiciamento se baseou em trechos do seu livro Nervos de Aço, lançado recentemente, no qual detalha o que chama de aparelhamento dos órgãos públicos pelos partidos da base aliada do governo. "Fui indiciado com base no livro que escrevi. Foi a mando do boboca do Bruno Aciolli, um garoto de recados do PT." Acciolli é um dos procuradores da República que acompanham as investigações junto com a PF. Por meio de nota, o procurador Acioli lamentou os ataques do ex-deputado e disse que o Ministério Público é instituição apartidária. Disse também que, caso sejam comprovadas as irregularidades investigadas, buscará punir os responsáveis. "Também é importante ressaltar que todas as operações realizadas foram feitas de forma legal, obedecendo o que rege a lei e devidamente respaldadas por ordem judicial", acrescentou. Segundo Jefferson, a Polícia Federal tem agido "como polícia política do governo, que indicia, põe na quarentena e promove retaliações, mas sem fundamento." O ex-deputado é o oitavo indiciado nesse inquérito, que investiga um gigantesco esquema de arrecadação de propinas montado nos Correios por partidos aliados do governo junto a fornecedores de bens e serviços da empresa, mediante licitações dirigidas, superfaturamento de preços e outras irregularidades. Mensalão O presidente do PTB foi o responsável pela divulgação, em 2005, do esquema do mensalão - pagamento de uma suposta mesada a parlamentares para votarem a favor de projetos do governo. O estopim para Jefferson fazer a denúncia foi a divulgação da uma fita de vídeo, que mostra o ex-funcionário dos Correios Maurício Marinho negociando propina com empresários e dizendo que, para tanto, tinha respaldo do então deputado Roberto Jefferson. Acuado, Jefferson resolveu atacar o governo. Sobre o mensalão, Jefferson afirmou que os pagamentos mensais chegavam a R$ 30 mil e o esquema de repasse do dinheiro era feito através de movimentações financeiras do empresário Marcos Valério. Dos acusados de envolvimento no esquema, foram cassados José Dirceu, o próprio Roberto Jefferson (PTB-RJ), e Pedro Corrêa (PP-PE). Quatro parlamentares renunciaram para fugir do processo e 11 foram absolvidos. Este texto foi ampliado às 20h35.

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