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PF grampeou PSDB no Acre durante campanha de 2010

Por Andrea Jubé Vianna
Atualização:

A Polícia Federal grampeou o comitê eleitoral do PSDB no Acre na campanha de 2010. As escutas telefônicas às quais o Estado teve acesso revelam detalhes da campanha do candidato tucano, Tião Bocalon, ao governo, como definição de agendas, requisição de material de propaganda. Até mesmo conversas com a coordenação nacional de José Serra à Presidência foram interceptadas. A PF confirmou ontem que, de fato, um telefone do Diretório do PSDB no Acre foi grampeado porque, segundo o órgão, estava em nome da deputada Antônia Lúcia (PSC-AC), alvo de inquérito por uso de caixa 2 e fraude eleitoral. Daí porque, segundo a PF, muitas ligações para o partido, de fora para o comitê ou originárias desse número, caíram na interceptação. Na versão da PF a escuta foi, portanto, indireta. A deputada nega que tenha cedido o telefone ao comitê. Antônia Lúcia (PSC-AC), hoje deputada federal, foi coligada aos tucanos e adversária do candidato Tião Viana (PT), governador eleito do Acre. Em um dos diálogos, o secretário-geral do PSDB no Acre, Frank Lima, reclama a uma das coordenadoras nacionais da campanha de José Serra da falta de material de campanha do presidenciável tucano. "PSDB, Zeli, bom dia", atende a secretária do comitê tucano. "Por favor, o Frank Lima está? É Silvana Rezende, da coordenação da campanha do Serra em São Paulo", apresenta-se a interlocutora. "Eu precisava de muito santinho, de muito adesivo, eu tenho cento e porrada de candidato (sic) estadual aqui, eles me pedem material do Serra, eu sou obrigado a dizer que não tenho", reclama Lima. Em seguida, ele admite que recebeu uma remessa pequena de material, "do tamanho de uma caixa de leite". Lima lembra que eles se falam no dia 19 de agosto, quase um mês e meio de campanha, e ele não tinha material de propaganda. Silvana tenta mostrar bom humor e reconhece: "Se demorar demais, chega depois da eleição", no que o interlocutor dispara: "Na campanha do (Geraldo) Alckmin, isso infelizmente aconteceu". Em outro trecho, ele aponta as falhas de comunicação na campanha e critica a vice-presidente do PSDB: "Temos que ir pro boca a boca, pro corpo a corpo (?) temos uma coordenadora do Norte que é a (senadora) Marisa Serrano, que não sabe nem onde fica Rondônia". "É uma denúncia muito grave. Vamos reagir com certeza a qualquer grampo, a qualquer pretexto, no Acre ou em qualquer lugar. A Polícia Federal terá que esclarecer o seu papel nesse episódio", disse o presidente do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE). O dirigente tucano afirmou que vai pedir esclarecimentos ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Por meio das interceptações, era possível monitorar a agenda de Tião Bocalon e acompanhar cada movimento do candidato. Na conversa com uma assessora do deputado federal Flaviano Melo (PMDB-AC), então candidato à reeleição, a funcionária do comitê do PSDB revela os compromissos do tucano: "Hoje à noite tem palestra lá na Fiac (Federação das Indústrias do Acre), às oito horas da noite. (?) Ele mesmo que está fazendo (a agenda)". A assessora de Flaviano diz que tem uma reunião no dia 29 na "invasão do Júnior Betão" que será concorrida, e o peemedebista quer a presença de Bocalon. Em outro diálogo, quase foi interceptada uma conversa do presidente da Associação dos Magistrados do Acre, juiz Jordane Dourado, com Bocalon. "Aqui é da Associação dos Magistrados, o presidente daqui, doutor Jordane, gostaria de falar com o candidato Tião Bocalon". A secretária responde que o tucano não se encontra e repassa os celulares dele: "9999-4545, se ele não atender nesse, liga no outro 9994-6145". Num dos diálogos mais pitorescos, a Polícia Federal captou o almoço da equipe da campanha tucana. "Cozinha Tropical". "Bom dia, seu Nonato, o senhor manda 15 marmitas pro PSDB hoje ..." São mais de 360 horas de interceptações telefônicas, captadas durante 15 dias de campanha no primeiro turno das eleições do ano passado, a partir de 14 de agosto. As conversas relativas à deputada Antônia Lúcia foram consideradas ilegais e anuladas pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Acre, em julgamento ocorrido em 19 de outubro. "Não é possível a utilização de qualquer prova atinente às interceptações telefônicas existentes nos autos", afirmou o juiz Marcelo Bassetto em seu voto, acolhido à unanimidade pelos julgadores. A PF informou que todas as conversas que não tinham relação com o crime investigado foram excluídas do relatório final do inquérito, mas não podiam ser eliminadas dos autos. A lei prevê que todas as interceptações sejam preservadas, mesmo as imprestáveis, para investigações futuras em caso de abuso dos policiais. Segundo a PF, a denúncia da deputada não procede e já foi inclusive arquivada pelo Ministério Público Federal, que considerou as alegações "sem fundamento". O órgão garantiu que todos os telefones que tiveram conversas grampeadas estavam no nome da deputada. Informou, ainda, que as interceptações das conversas recebidas ou feitas para esses números foram deferidas pela Justiça e submetidas à fiscalização do MP. PT no Acre Os irmãos petistas Tião Viana, governador do Acre, e Jorge Viana, senador e relator do novo Código Florestal, revezam-se no comando do Estado há 20 anos. Jorge Viana elegeu-se prefeito da Capital, Rio Branco (que concentra 50% da população) em 1992. Em 1998, elegeu-se governador e ficou no cargo por dois mandatos. Em 2006, elegeu o vice, Binho Marques, também do PT, porque não poderia disputar um terceiro mandato, nem eleger o irmão, Tião Viana, que representava a família no Senado. Tião Viana venceu Bocalon no ano passado por uma margem apertada, cerca de 7 mil votos, 1,32% do eleitorado.

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