PF faz busca e apreensão na Unifesp

Servidores estariam indevidamente registrados em lista do Cadastro Nacional de Estabelecimento de Saúde

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Por Roberto Almeida
Atualização:

A Polícia Federal cumpriu ontem durante toda a manhã mandado de busca e apreensão na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), no Hospital São Paulo e na Sociedade Paulista de Desenvolvimento da Medicina, organização social que administra o hospital. Três agentes coletaram documentos e computadores em ação que durou duas horas. A operação foi apoiada em mandado judicial expedido pela 7ª Vara Federal de São Paulo a pedido da procuradora da República Adriana Scordamaglia. Ela investiga denúncias divulgadas pela Rede Globo que apontaram nomes de servidores da Unifesp, inclusive de aposentados e pessoas mortas, que aparecem indevidamente em lista do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES) como funcionários remunerados também pelo Hospital São Paulo. Com documentos e computadores em mãos, o Ministério Público Federal busca ainda esclarecer se há crime de estelionato e peculato, já que mudanças na listagem de funcionários foi realizada supostamente para gerar fraudes nos pagamentos do SUS e dos planos de saúde. Segundo a Unifesp, a ação dos agentes começou por volta das 9h30. O mandado pedia a colaboração da universidade para que as autoridades tivessem acesso a documentos em papel e eletrônicos da instituição. A instituição alega, porém, que os motivos da ação não foram especificados. A PF não teria informado as razões para a busca e apreensão, portando apenas um mandado "genérico". A universidade considerou a ação "discreta", mas agora reclama acesso aos autos para "colaborar da melhor forma para esclarecimento dos fatos". Nenhum membro da Unifesp quis se pronunciar sobre a ação dos agentes, alegando falta de informações sobre o mandado. "Qualquer coisa que for falada é especulação", informou a Unifesp por meio de sua assessoria de imprensa. A instituição pretende ainda hoje pedir esclarecimentos à Justiça. RENÚNCIA O novo escândalo da Unifesp vem na seqüência da renúncia do reitor Ulysses Fagundes Neto, no fim de agosto. Ele pediu afastamento do cargo após denúncias de uso irregular do cartão corporativo, em que constavam gastos em viagens, compra de equipamentos eletrônicos e artigos de luxo no exterior. Os gastos irregulares do reitor foram apontados em relatório técnico do Tribunal de Contas da União (TCU), em que foram analisadas 13 viagens. O parecer dos técnicos concluiu por desvio de finalidade, burla ao regime de dedicação exclusiva e realização de roteiros não autorizados ou com prazo superior ao estritamente necessário. A revelação dos gastos de Fagundes Neto resultou em ação civil pública, por parte do Ministério Público e da Advocacia-Geral da União, para tornar seus bens indisponíveis e quebrar seu sigilo fiscal. Foram também atingidos pela ação o vice-reitor Sérgio Tufik e mais dois funcionários da universidade. O caso, segundo o Ministério Público, é de improbidade administrativa, referência ao suposto mau uso do cartão corporativo e violação do regime de dedicação exclusiva. Fagundes Neto, Tufik e os funcionários também teriam utilizado o cartão em viagens sem relação com suas atuações acadêmicas. A série de escândalos na universidade atingiu em cheio a comunidade estudantil, que vem protestando desde as primeiras acusações a Fagundes Neto, que datam do começo do ano. Eles ameaçam greve geral na universidade. No fim de agosto, o campus de Guarulhos ficou parcialmente parado. Em São Paulo, cerca de 50 alunos acamparam em frente ao prédio da universidade, na Vila Clementino, zona sul da cidade. Para o coordenador-geral do Diretório Central dos Estudantes (DCE), Tiago Cherbo, a ação da PF demorou para acontecer. Ele acredita que a maior parte dos documentos que poderiam comprometer a administração já foi destruída. De acordo com ele, está claro que "a administração da universidade caiu em descrédito".

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