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PF entrega cópia de laudo sobre Renan ao STF

Relatório traz indícios de falsidade ideológica, fraude e crimes financeiros que serão aprofundados em inquérito

Por Vannildo Mendes
Atualização:

A Polícia Federal entregou nesta quarta-feira, 22, ao Supremo Tribunal Federal (STF) cópia do laudo sobre os documentos de defesa do senador Renan Calheiros. O relatório, produzido pelo Instituto Nacional de Criminalística (INC), traz indícios veementes de falsidade ideológica, fraude contábil e crimes financeiros que deverão ser aprofundados no inquérito aberto no STF há duas semanas a pedido do Ministério Público Federal.   Veja também: Cronologia do caso Renan   Denúncias contra Renan abrem três frentes de investigação  Veja especial sobre o caso Renan  Laudo da PF derruba argumentos de defesa de Renan Perícia da PF agrada aliados e adversários de Renan Calheiros O laudo revela que toda documentação relativa ao rebanho traz incompatibilidades. Há guias atestando vacinação em gado só adquirido em data posterior e há guias de transporte de animais não comercializados. Há ainda notas fiscais de venda de gado para abate sem as correspondentes guias de transporte, ou em datas divergentes. Há também empresas inidôneas relacionadas entre os compradores e até um comprador que nega ter feito qualquer negócio com o senador. Para os peritos, as incompatibilidades ficam mais patentes na análise da evolução patrimonial do senador. Em 2005, ele converteu em patrimônio R$ 25 mil a mais do que a soma do que está declarado como ganho no ano, sobrando pouco mais de 2 mil reais mensais para sustentar sua família e manter o padrão de vida. Com tantas despesas, pelo menos nesse ano Renan, segundo o laudo, não teria dinheiro para pagar a pensão de Mônica Veloso. Para os peritos, ele tinha patrimônio para suportar a pensão alimentícia da jornalista, mas todo ele estava imobilizado em investimentos.     'À disposição'   Renan disse nesta quarta-feira estar à disposição do Conselho de Ética e que deporá nesta quinta. "Informo ao plenário que estou me colocando à disposição dos três relatores para amanhã prestar esclarecimentos definitivos".   O presidente do Conselho de Ética, Leomar Quintanilha (PMDB-TO), havia dito que Renan tinha até a próxima segunda-feira o prazo para se defender da acusação da primeira representação movida contra ele. Nessa representação, Renan é suspeito de ter tido suas contas pessoais pagas pelo lobista da Mendes Júnior, Cláudio Gontijo.    A convocação foi feita logo após a comissão ter recebido o resultado da perícia da Polícia Federal, sobre os documentos apresentados por Renan para justificar disponibilidade de recursos para pagar suas despesas pessoais.   O corregedor do Senado, Romeu Tuma (DEM-SP), deve encaminhar ao Conselho de Ética ainda nesta quarta requerimento de convocação de uma acareação entre Renan Calheiros e o usineiro alagoano e ex-deputado João Lyra, que afirma tem comprado, em parceria com o senador, duas emissoras de rádio em Alagoas em nomes de laranjas.   'Pontos favoráveis'   Em um discurso de um minuto, Renan  enumerou os pontos que lhe são favoráveis no laudo pericial feito pela Polícia Federal dos documentos que ele apresentou ao conselho para tentar prova que recebeu R$ 1,9 milhão com venda de gado de suas fazendas nos últimos quatro anos.   Renaninformou que teve acesso a uma cópia do laudo e que a perícia da PF "sustenta as afirmações" que ele vem fazendo "desde o início deste doloroso processo."   Renanafirmou que ficou claro que todos os documentos contábeis que apresentou são autênticos, que o gado foi vendido a preço de mercado e que o dinheiro das vendas foi deposito na sua conta bancária.     Laudo     O laudo aponta inconsistências na evolução patrimonial de Renan, sobretudo em 2005, e não prova, como ele queria, que saiu de seu bolso o dinheiro para pagar a pensão da jornalista Mônica Veloso, com quem o senador tem uma filha fora do casamento.   Os saques, que ele apresentou como prova, não batem com os valores nem as datas de entrada de dinheiro na conta de Mônica.   Conforme os peritos, não há uma só prova da transferência direta de Renan para Mônica, como um cheque ou valor retirado da sua conta e depositado ou transferido diretamente para a conta da jornalista.   O dinheiro que o parlamentar diz ter destinado a Mônica não tem conexão com os valores que ela alega ter recebido, em envelopes mensais, das mãos do lobista Cláudio Gontijo, da empreiteira Mendes Júnior. Além disso, segundo o laudo, os papéis entregues pela defesa não são suficientes para confirmar a capacidade econômico-financeira de Renan para custear a pensão.   Os documentos não provam sequer que Renan vendeu, como alega, 2.200 bois ou faturou R$ 1,9 milhão com atividades rurais em quatro anos. Isso porque ele entregou como provas notas fiscais que não batem com as guias de transporte animal (GTAs) nas quantidades, nos valores ou nas datas.   Os papéis também não comprovam a entrada do dinheiro na sua conta como fruto dos negócios com gado e a quantidade de vacinas indica diferença no tamanho do rebanho. Há "diversas inconsistências verificadas nos documentos", atestam os peritos.   A perícia diz que não é possível ter certeza, com base na documentação, de que a quantidade de gado supostamente vendida seja mesmo do senador.   "Devido a diversas inconsistências verificadas nos documentos examinados e, também, por não ter disponibilizado conjunto de documentos que ateste a propriedade do gado", explica.

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