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PF divulga áudio para atribuir a Protógenes desistência do caso

Trechos de conversa na Superintendência da PF vieram a público após cobrança de Lula

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Foto do author Leonencio Nossa
Por Vannildo Mendes , Leonencio Nossa e BRASÍLIA
Atualização:

Para tentar afastar os rumores de que o delegado Protógenes Queiroz foi afastado do comando da Operação Satiagraha por pressões políticas, a direção-geral da Polícia Federal divulgou ontem trechos gravados na reunião de segunda-feira, em São Paulo, quando foi decidida a saída do delegado do caso. Protógenes, que reclamara de boicote, admitiu na reunião que teve o apoio da cúpula da PF, que "errou" ao chamar a imprensa para filmar as prisões e que criou "um grande problema para os colegas". Ouça trechos da reunião da PF Com os diálogos selecionados, só com algumas das falas de Protógenes na reunião, a PF quis provar que o delegado, diante dos erros cometidos, foi naturalmente afastado da operação. A divulgação foi feita com o consentimento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, apesar de, anteontem, ele ter pedido em público que Protógenes voltasse à chefia da operação. Com o gesto, Lula quis eliminar as suspeitas de que haveria uma articulação no governo contra o delegado e a favor dos alvos da Satiagraha - investigação sobre suposta "organização criminosa" comandada pelo banqueiro Daniel Dantas, preso pela PF duas vezes e libertado por determinação do Supremo Tribunal Federal. A decisão de permitir a divulgação dos trechos com as falas de Protógenes foi tomada depois de um encontro, no início da manhã de ontem, de Lula com o ministro Tarso Genro (Justiça) e o diretor interino da PF, Romero Menezes. A reunião foi promovida por Tarso, que tem a missão de aparar as arestas entre o Planalto e os delegados. Na avaliação do ministro, a divulgação dos trechos da reunião da PF seria uma forma de pôr "um ponto final" nas suspeitas de interferência política. Tarso adiantou para Lula que a gravação do encontro da cúpula da polícia mostrava que Protógenes agradecia a seus superiores e citava, até de maneira elogiosa, o atual diretor do órgão, Luiz Fernando Correa, com quem mantém um diálogo difícil. Lula quis passar o recado de que o governo valoriza e defende o trabalho dos agentes, uma tentativa de recuperar a relação cordial do Planalto com os diferentes grupos da PF. A reunião de segunda-feira, na Superintendência de São Paulo da PF, durou cerca de duas horas e meia e foi toda gravada - o que é comum nos encontros de cúpula da polícia. Nos trechos divulgados, que somam menos de cinco minutos de conversa, não há sinais de pressão política sobre o delegado. E a direção da PF usa como argumento final para não manter Protógenes na operação o fato de ele ter processado a própria PF para, mesmo estando na presidência de um inquérito especial, ter direito a fazer um curso de especialização, em Brasília. COLABORAÇÃO Protógenes tentou permanecer na operação como uma espécie de "colaborador", fazendo o curso durante os dias úteis, mas ouvindo testemunhas e fazendo interrogatórios aos sábados e domingos. O diretor da Divisão de Combate ao Crime Organizado, Roberto Troncon, que presidiu a reunião, acabou levando Protógenes a concluir que seria melhor "distribuir para um dos colegas" o inquérito, porque seria absurdo, em termos de técnica policial, e um abuso contra os direitos dos depoentes, obrigá-los a depor nos fins de semana. Conforme a direção da PF, mesmo sabendo da coincidência de datas entre o curso e o final do inquérito, Protógenes insistiu em ficar no caso até o fim. Protógenes aparece em um trecho assumindo a responsabilidade por vazamentos e por privilegiar a TV Globo. "O (Protógenes) Queiroz falhou", diz ele, falando na terceira pessoa. "O doutor Troncon me depositou (confiança) e eu firmei compromisso com ele, mas falhou ao meu controle." OS TRECHOS DIVULGADOS Elogia os chefes Protógenes: "Eu não preciso nem falar com relação ao dr. Troncon, que é um chefe ímpar. Eu devo praticamente 100% da execução dessa operação a dois homens de bem dessa instituição. Primeiramente é o dr. Troncon. Depois é o dr. Leandro. Em terceiro, como coadjuvante - eu não poderia esquecer - é o dr. Luiz Fernando Corrêa (diretor-geral da PF). Eu tenho o maior carinho por ele. Ele era sabedor dessa operação e correu tudo bem. Na minha avaliação, tirando os erros que a gente está corrigindo aqui - essa é uma reunião de avaliação de erros para nós corrigirmos os policiais -, correu tudo bem" Admite os erros Protógenes: "Houve a presença da imprensa (na cobertura da operação) aqui em São Paulo? Houve. Falhou? Falhou. Quem falhou? O (Protógenes) Queiroz falhou. Por que falhou? Porque o dr. Troncon me depositou (confiança). E eu firmei compromisso com ele, mas falhou ao meu controle, falhou ao meu controle" Descreve os crimes Protógenes: "A minha parte (na investigação) inclui corrupção, informação privilegiada (em favor do grupo de Daniel Dantas), formação de quadrilha. A estrutura central consiste na apuração desses crimes a partir da análise do HD (do grupo Opportunity). Esse laudo já está fechado. Eu já tenho como a estrutura do crime se materializou com a análise do HD, cotejado com dados atualizados de interceptação telefônica e de e-mails por um ano e meio. Além de outros crimes que comprovam a materialidade da gestão fraudulenta (do Opportunity). A estratégia foi fazer três procedimentos (inquéritos desmembrados) para facilitar o trabalho, ainda que lá na frente tudo se converta num canal só para a 6ª Vara" Propõe tocar o inquérito nos finais de semana Troncon:"Você consegue relatar até sexta-feira? Tem que ouvir o pessoal?" Protógenes: "Sim. O advogado traz todo mundo aqui. Ele se comprometeu. Só depende de o advogado trazer o pessoal" (Protógenes ouviu na quarta-feira Dantas, que usou o direito de ficar calado e não produzir prova contra si. O banqueiro foi denunciado e a Justiça o transformou em réu em processo criminal, acusado de tentar subornar um policial. Um emissário seu ofereceu US$ 1 milhão para corromper um delegado) Protógenes: "Até mesmo depois da academia, eu não pretendo (ficar à frente da investigação). A minha proposta é: eu fico até o final da operação. Porque eu criei um problema para os meus colegas delegados, um grande problema, acredito que até pra você também. E a minha proposta é esta: permanecer a minha vinculação ao seu gabinete (de Troncon), à sua disposição até o final desse trabalho, pra não ficar aquela pecha de que Brasília vem fazer operações nos Estados e deixa no meio do caminho." Aceita ficar como colaborador Protógenes: "As minhas operações nunca ficaram no meio do caminho. As minhas nunca ficaram. A exemplo delas, essa também não vai ficar. Só que com um diferencial: eu não vou ficar presidindo. Eu não pretendo presidir nenhuma investigação mais (da Operação Satiagraha). Ficarei só no apoio do trabalho" Troncon: "Se, eventualmente, dentro do desdobramento natural deste inquérito que você instaurou, se você conseguir concluir antes do seu período na academia, sem nenhum problema. Agora, se não conseguir, aí a gente passa pra um dos colegas" Protógenes: "Isso, distribui para um dos colegas..."

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