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PF apura suposta propina de montadora para o PTB

Papéis apreendidos indicariam que Fiat teria pago R$ 250 mil ao partido em venda de veículos para os Correios; empresa nega irregularidades

Por Vannildo Mendes e
Atualização:

A Polícia Federal vai investigar a denúncia de corrupção ativa envolvendo uma das maiores montadoras de veículos brasileiros, a Fiat, na suposta venda superfaturada de mil carros aos Correios (ECT) e o suposto pagamento de propina, no valor de R$ 250 mil, ao Diretório Nacional do PTB. A denúncia surgiu durante as investigações de corrupção nos Correios, depois do escândalo do mensalão, que estourou em 2005. A PF apreendeu documentos, que serão periciados pelo Instituto Nacional de Criminalística (INC), com indícios do pagamento. A denúncia inicial foi feita pelo ex-funcionário da ECT Maurício Marinho. Em depoimento à PF, Marinho disse que os "repasses de recursos" relativos ao superfaturamento foram feitos "por intermédio de uma empresa de Ribeirão Preto para financiar campanhas políticas". Ouvida pela PF no inquérito dos Correios, a Fiat confirmou a venda dos carros, mas negou ter participado de maneira ilegal e ilegítima de qualquer concorrência pública. O ofício requerendo a abertura do novo inquérito foi encaminhado à Superintendência da Polícia Federal em Brasília pelo delegado Daniel de Albuquerque França Anjos. Após dois anos e sete meses de investigações, a PF enviou à Justiça, no final de dezembro passado, a versão final do inquérito dos Correios. A investigação começou em maio de 2005 depois da divulgação de um vídeo em que o então Diretor do Departamento de Contratação e Administração de Material, Maurício Marinho, aparece recebendo propina de empresários e comentando como funcionava o esquema de corrupção na estatal. A abertura do inquérito irritou o presidente do PTB, deputado cassado Roberto Jefferson (RJ). Apontado como um dos beneficiários, Jefferson detonou o escândalo do mensalão, ao denunciar o esquema que seria comandado pelo então ministro da Casa Civil, José Dirceu, de pagamento de mesada a parlamentares em troca de apoio a projetos do governo no Congresso. A investigação da PF revelou a existência de fisiologismo e corrupção generalizados na estatal e em toda a estrutura do governo, pelo qual os partidos usam dinheiro desviado de obras e compras públicas para financiar suas campanhas. O relatório de 130 páginas a que o Estado teve acesso também foi divulgado ontem à noite no Jornal do SBT. Além de Jefferson e Marinho, a PF indicia mais seis pessoas por corrupção ativa e passiva, fraude em licitações e formação de quadrilha. Entre elas está o ex-diretor de Administração da ECT Antônio Osório Batista, que seria o elo entre a quadrilha e a estatal. Na parte conclusiva, o relatório diz que a corrupção "é a contrapartida do clientelismo", no que toca ao conluio entre o crime organizado e o Estado. "Alguns setores do Estado tendem a manter bom relacionamento com determinados grupos criminosos, visando a angariar influência em determinados locais. Como nem todo tipo de crime organizado tem controle territorial, sua aproximação com o Estado se dá de outra forma, ou seja, através da corrupção", sintetiza o documento. Diz ainda que, ao longo dos anos, isso vem ocorrendo tanto nos Correios quanto em outras estatais, "numa espécie de loteamento dos cargos em comissão a pessoas dos mais diversos matizes políticos que se alternam no poder". Por meio desse instrumento, acrescenta o relatório, "busca-se angariar recursos financeiros junto às empresas privadas fornecedoras de serviços e produtos ao aparelho estatal, em compensação aos ajustes escusos realizados pelos gestores de tais empresas", constata. Assinado pelo delegado Daniel Anjos, o relatório estima que, só na ECT, até o esquema ser desmascarado, as quadrilhas formadas por partidos para se apropriar de verbas públicas estavam atuando em contratos que somavam cerca de R$ 8 bilhões. Em cada contrato no qual interferia, o PTB cobraria pedágio de 3% a 5%, conforme o relatório. Por meio de seu advogado, Luiz Francisco Barbosa, Jefferson disse desconhecer o assunto, mas falou que a acusação é "uma fraude". O presidente do PTB atribuiu a notícia a uma repercussão de suas intenções de arrolar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva como testemunha de defesa no processo do mensalão.

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