Petistas não acreditavam na libertação de Lula após decisão de Marco Aurélio

Ação do presidente do STF, ministro Dias Toffoli, era esperada, mas defesa pediu saída e ainda recorreu ao STF

Por Ricardo Galhardo
Atualização:

CURITIBA - A decisão do ministro Marco Aurélio Mello de revogar prisão após condenação em segunda instância foi recebida com otimismo contido e desconfiança por advogados, aliados, colaboradores, família e pelo próprio ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Após a medida ser revertida por Dias Toffoli, a defesa de Lula protocolou recurso no Supremo Tribunal Federal.

Apoiadores de Lula protestam em frente ao Supremo Tribunal Federal após decisão do ministro Marco Aurélio Mello de revogar prisão após condenação em segunda instância, medida que beneficiaria o ex-presidente Foto: Sergio Lima/AFP

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Mais cedo, segundo uma pessoa que esteve com Lula, o ex-presidente recebeu a notícia “com serenidade, disposto a aguardar o desenrolar da ação”. O episódio envolvendo o desembargador federal Rogério Favreto, do TRF-4, em julho (o plantonista que mandou soltá-lo), deixou Lula e entorno em alerta. Duas semanas antes, o ex-presidente disse a um aliado que foi visitá-lo que foi preso por razões políticas e só seria solto “quando mudar o cenário político”.

O ex-ministro Gilberto Carvalho, um dos mais próximos e antigos colaboradores, disse, ainda no meio da tarde, que não tinha “ilusões” quanto ao ministro Dias Toffoli. “Não queremos festejar nada porque sabemos que o Toffoli pode cassar a decisão. Ao mesmo tempo, estamos convocando uma mobilização em Curitiba”, disse.

Mesmo assim, a defesa do petista protocolou pedido de libertação dele 48 minutos após a decisão de Marco Aurélio. Lula está preso desde 7 de abril em Curitiba, condenado a 12 anos e um mês de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do triplex do Guarujá.

Enquanto isso, cerca de 500 militantes foram para a porta da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba para se manifestar em defesa do ex-presidente. Pouco depois um grupo menor, de 50 pessoas, se postou a um quarteirão de distância para protestar contra a decisão do ministro Marco Aurélio.

Houve troca de provocações e início de confusão. De um lado, ficaram integrantes de grupos como MBL e República de Curitiba, que chamavam petistas de ladrões. De outro, apoiadores de Lula respondiam com gritos de “Cadê o Queiroz?”, em referência ao motorista Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flavio Bolsonaro (PSL-RJ), que não compareceu a depoimento nesta quarta-feira, 19. A Polícia Militar fez um cordão de isolamento para evitar agressões.

Recurso. A defesa do ex-presidente Lula protocolou no início da noite uma petição na qual pede ao STF que seja reafirmada a competência do ministro Marco Aurélio Mello na ADC-54, sobre a prisão após julgamento em segunda instância. No documento, a defesa cita decisões do ministro Gilmar Mendes e da ex-ministra Ellen Gracie e pede que a medida sirva como alvará de soltura de Lula.

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“Em razão do descabimento de suspensão liminar em ações de abstrato de constitucionalidade, conforme inúmeros precedentes da Corte, requer-se seja reafirmada a competência de Vossa Excelência, eminente relator da ADC 54, para analisar o pedido de alvará de soltura do peticionário, dado o já noticiado descumprimento pelo Juízo da Execução; seja estabelecido que a própria decisão proferida sirva como alvará de soltura”, diz a defesa do ex-presidente.

Mais beneficiados. A decisão monocrática, se mantida, ainda abriria caminho para a soltura de ao menos 18 condenados no âmbito da Operação Lava Jato, segundo o jornal O Globo. Entre eles estariam os ex-tesoureiros do PT, Delúbio Soares e João Vaccari Neto, o ex-diretor de Serviços da Petrobrás, Renato Duque, e o ex-diretor da Engevix, Gerson Almada. Todos também entraram com pedido de liberdade nesta quarta.

Outros que poderiam pedir alvará de soltura são o ex-senador Gim Argello, preso em Curitiba desde 2016, acusado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro; o ex-presidente da Mendes Junior, Sérgio Cunha Mendes; o ex-presidente da Galvão Engenharia, Dario Queiroz Galvão Filho; e o empresário Luis Eduardo de Oliveira e Silva, irmão do ex-ministro José Dirceu. / COLABORARAM ANA BEATRIZ ASSAM e JULIO CESAR LIMA

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