Pesquisas causam reviravolta em SP; Alckmin amplia ataques

Isolada na liderança, Marta Suplicy desacelerou os compromissos de campanha nos últimos dois dias

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Por CARMEN MUNARI
Atualização:

O resultado de duas pesquisas de intenção de voto sobre a corrida pela prefeitura de São Paulo provocou um tranco nas campanhas eleitorais, especialmente na de Geraldo Alckmin (PSDB).  Em queda nas sondagens, o ex-governador ampliou os ataques a Marta Suplicy (PT), insistiu nas críticas à gestão do prefeito Gilberto Kassab (DEM) e, apesar de ocupar a rabeira na arrecadação de recursos, intensificou o corpo-a-corpo e vai convocar militantes para atuar junto ao eleitor. Veja também: Tenho mais votos que Alckmin e Kassab juntos, diz Marta Divido com Serra a alegria de subir nas pesquisas, diz Kassab Alckmin diz que Serra na campanha 'não tem efeito prático' Veja a íntegra da última pesquisa  Multimídia: Perfil dos candidatos  Guia tira dúvidas do eleitor  Kassab (DEM), que lidera uma administração recheada de tucanos, comemora a alta na avaliação de sua administração e conta com sua conversão em votos para ultrapassar Alckmin e chegar ao segundo turno. Isolada na liderança, Marta desacelerou os compromissos de campanha nos últimos dois dias e tem a confirmação da presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em um evento público em São Paulo no sábado, mais provável uma caminhada na zona leste. Alckmin, até agora comportado, atendeu aos apelos de dirigentes do partido e criticou de forma contundente a gestão Marta à frente da prefeitura entre 2001 e 2004. No programa de TV que foi ao ar na segunda-feira à noite, quando tratava de um tema caro ao PT, a desigualdade social, um locutor fez a pergunta: "Nesta eleição, quem você acha que pode encarar esse problema de frente: o PT, que esteve na prefeitura por quatro anos para fazer, prometeu e não resolveu, ou o Geraldo Alckmin?" Afirmando que Alckmin passa a ser "mais direto", o coordenador da campanha, deputado Edson Aparecido, conta que a partir de agora a campanha de rua será intensificada, com mais caminhadas e o reforço de carreatas. Também passa a contar com o que chama de "mutirões" --mil militantes (90 por cento não pagos, diz) que vão atuar pessoalmente junto a eleitores. Estréiam neste fim de semana nas regiões sul e leste, redutos petistas. Tanto Marta quanto Kassab já fazem uso dos "visitadores", boa parte remunerados. "Temos estrutura inferior, não tenho gás para fazer isso a campanha inteira. Temos que dosar a energia para ir ao segundo turno", afirmou Aparecido à Reuters, ao admitir a escassez de recursos. Kassab e Marta, nesta ordem, lideram a arrecadação financeira até agora. Pesquisa do Datafolha divulgada no sábado mostrou Marta subindo de 36 por cento para 41 por cento, abrindo 17 pontos percentuais de vantagem sobre Alckmin, que caiu de 32 para 24 por cento. Kassab passou de 11 para 14 por cento. A performance aponta viabilidade do prefeito, que entra em rota de colisão com o tucano por um lugar no segundo turno. A disparada de Marta e a queda de Alckmin já haviam sido apontadas pelo Ibope. Frente a Kassab, Alckmin tem a contradição de atacar uma gestão que começou com o governador José Serra (PSDB) e está repleta de tucanos, o que não o impede de acelerar as críticas nas áreas de saúde e educação, principalmente. "Alckmin não pode dar uma de autista. Apontar soluções não significa que está criticando uma gestão", defende Aparecido. Segundo Alckmin, "a área as saúde precisa melhorar muito. Não é crítica à atual administração até porque a administração passada foi pior ainda". Na educação, aponta que há 157 mil crianças à espera de uma vaga na escola. "Não é possível achar que isso é normal", disse em campanha. Qual oposição? Para os apoiadores do prefeito, Alckmin está em queda nas pesquisas porque tem uma posição dúbia: o eleitor não o identifica como oposição ou situação. "A sociedade quer ou a manutenção do governo ou a sua troca por alguém que tem um discurso de oposição. A tendência é de polarização entre oposição e situação, tornando o discurso do Geraldo mais difícil", disse Walter Feldman, secretário de Esportes do município e um dos tucanos mais claramente kassabistas. Feldman afirma que é um equívoco a polarização entre Kassab e Alckmin, o que dificultará uma reaproximação no segundo turno. Nos bastidores, tucanos pró-kassab dizem que Alckmin é "candidato dele mesmo", à revelia de grande parcela do partido. Mesmo o governador Serra, que defendeu o apoio do PSDB à candidatura Kassab, não participou de um único compromisso público de campanha de Alckmin. Gravou apenas um depoimento para o programa de TV e está em viagem ao exterior nos últimos dez dias. O comportamento levou Alckmin a afirmar na segunda-feira, pela primeira vez, que a presença de Serra a seu lado "não tem efeito prático, tem efeito de solidariedade". Com o maior tempo na TV entre todos os candidatos, Kassab espera conseguir identificar as iniciativas de sua gestão com sua candidatura e transformar parte de sua aprovação de 40 por cento em voto. "Diferentemente dos meus principais adversários, eu nunca disputei um cargo majoritário. Na medida em que a campanha se desenvolva, nós vamos ter o cidadão associando a boa gestão à candidatura. É um processo", afirmou o prefeito. Marta tem procurado ignorar as críticas de Kassab, que vem lhe apresentando desafios comparativos entre as duas gestões, e faz provocações a Alckmin, como sobre a ausência de Serra na campanha. Após a divulgação da pesquisa no sábado, Marta não teve compromissos no domingo e na segunda-feira concedeu apenas uma entrevista a uma emissora e TV. No próximo sábado, terá Lula a seu lado na campanha, intensificando uma parceria que ela menciona todos os dias em programas de TV e rádio, discursos e entrevistas. "Vou fazer em São Paulo o que Lula faz no Brasil", diz, por exemplo, em sua campanha pelo telefone. Para o presidente do PT paulista, prefeito Edinho Silva, a disputa entre tucanos e democratas favorece Marta. Ele avalia que os dois principais opositores têm chances de ir ao segundo turno, mesmo com Kassab em terceiro nas pesquisas. "Você nunca menospreza a máquina (administrativa) e Kassab tem duas (dele e de Serra)", afirmou.

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