Pesquisadores seqüenciam duas variedades de arroz

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

O inseparável companheiro do feijão ganhou hoje um tempero high tech. Duas variedades do arroz nosso de cada dia tiveram seus genomas seqüenciados, primeiro passo para a produção de sementes mais resistentes, mais produtivas, capazes de se adaptar a diferentes climas e tipos de solo. "A comunidade científica está entusiasmada. O arroz integra a dieta básica de 50% da população mundial e, para nossa sorte, é o menor genoma entre os cereais usados para alimentação", disse Ronald L. Phillips, especialista em genômica do International Rice Research Institute (IRRI), com sede em Manila, nas Filipinas. Os cereais todos - incluindo trigo, cevada, milho, aveia e sorgo - são aparentados e, por isso, se um gene do arroz for conhecido é muito provável que ele seja encontrado também nos demais, talvez até mesmo numa posição semelhante no cromossomo da outra espécie. "O arroz é uma espécie fundamental para a genômica vegetal, por ter um genoma pequeno, mais fácil e barato de seqüenciar, e cujos dados podem ser aproveitados nas pesquisas das outras espécies", explica. Os trabalhos, publicados na revista "Science", vêm um do setor privado e outro do público. O Beijing Genomics Institute, da China, seqüenciou o Oryza sativa L. ssp. indica - nome e sobrenome científico da variedade mais importante para os chineses. O Torrey Mesa Research Institute, da Syngenta, estudou o japonica, adaptado a regiões áridas. A Syngenta é resultado da fusão dos setores de agribusiness da Novartis e Zeneca. Para quem gosta de números, o arroz tem seu charme. Os genomas do indica e do japonica têm, respectivamente, 466 milhões e 420 milhões de pares de bases (aquelas letrinhas que indicam as bases do DNA, A, T, C e G), enquanto nós temos cerca de 3,2 bilhões. Só para comparação: o genoma do trigo tem cerca de 16 bilhões. Na contagem de genes, o arroz sai ganhando fácil do Homo sapiens. As estimativas são de que o indica tem entre entre 45 mil e 56 mil genes, o japonica, entre 32 mil e 50 mil, enquanto nós temos entre 30 mil e 40 mil genes. "A diferença principal não está no número de genes, mas na complexidade de seu funcionamento", explica o físico canadense Gane Ka-Shu Wong, que apesar do nome confessa que passa por vexames a cada vez que vai a Pequim, porque não fala uma palavra em chinês. Wong, da Universidade de Washington, fez toda a bioinformática da pesquisa chinesa. "Vegetais como o arroz têm genes duplicados, isto é, precisam de um gene para ter a receita de cada proteína de que necessitam. Mamíferos, como nós, recorrem a um processo mais sofisticado em que várias proteínas podem ser feitas a partir do mesmo gene", diz o pesquisador. Stephen Goff, que encabeça a equipe da Syngenta, disse hoje que a empresa já pediu a patente de alguns genes, que devem começar a ser testados em breve. Por enquanto, a idéia é usá-los para acelerar o processo de melhoria da planta. Em vez dos cruzamentos tradicionais, em que o critério é físico - tamanho, sabor, resistência - e os resultados levam anos para aparecer, o conhecimento dos genes permite que cada variedade seja selecionada por meio de marcadores genéticos precisos. Rapidez Significa que o que levava 12 ou 15 anos para ficar pronto agora vai poder chegar às mãos dos agricultores dentro de 3 ou 4 anos. Os dois trabalhos publicados hoje não são os únicos sobre arroz. Há dois anos, a Monsanto depositou no GenBank, que é público, as suas seqüências de arroz. Há um projeto internacional, o International Rice Genome Sequencing Project (IRGSP), que deve produzir uma seqüência detalhada e de alta precisão até o fim do ano, com dados do setor privado e instituições públicas de 11 países.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.