14 de fevereiro de 2020 | 10h54
SÃO PAULO - Já faz quase uma semana desde que o ex-policial militar Adriano Magalhães da Nóbrega morreu durante uma operação policial que visava sua captura no município de Esplanada, na Bahia. As circunstâncias da morte do 'capitão' Adriano, apontado como chefe da milícia carioca 'Escritório do Crime', porém, ainda seguem sob investigação.
O envolvimento do ex-PM com a milícia e sua suposta participação no assassinato da vereadora Marielle Franco, levantaram a hipótese de que sua morte tenha sido, na verdade, uma queima de arquivo. O senador Flávio Bolsonaro (sem partido - RJ), que tinha uma relação próxima com Adriano, chegou a afirmar que alguém estaria querendo 'sumir com evidências do brutal assassinato do capitão Adriano'.
Veja agora algumas dúvidas que já foram esclarecidas e outras que ainda precisam de resposta na lista abaixo:
O ex-oficial do Bope era considerado foragido havia mais de um ano, sob acusação de chefiar a milícia Escritório do Crime, alvo das Operações Os Intocáveis e Os Intocáveis II. Para evitar rastreamento, tinha vários celulares, nos quais instalava chips que descartava após a primeira - e única - ligação. Usava documentos falsos e é descrito por testemunhas como homem calado. A discrição e as técnicas de despiste o tornavam um alvo difícil de identificar e localizar. Sua localização pode indicar a ação de informantes, mas isso ainda não foi esclarecido.
Uma possibilidade sob investigação da Polícia baiana é que Adriano lavasse dinheiro com bens, como imóveis e gado, na área onde foi rastreado ou perto dela. Isso explicaria a presença do miliciano ali - onde se sentiria seguro e teria uma rede de relações. Também ajudaria a entender como foi achado pelas autoridades fluminenses: a pesquisa de bens, negócios e pessoas próximas poderia ter levado a ele. Mas isso não está claro.
É muito difícil que um criminoso conhecido e procurado se abrigasse e se deslocasse com sucesso por uma região tão distante de sua área original de atuação (a zona oeste da capital fluminense) sem algum tipo de apoio de quem conhecesse bem o novo local. Adriano demonstrou que se movimentava com facilidade pelas estradas e imóveis próximos a Sauípe e Esplanada. Isso pode indicar ajuda de pessoas que conhecem caminhos e esconderijos por lá.
Guimarães chegou a ser preso por porte ilegal de armas, na véspera da morte de Adriano, e teve a prisão relaxada pela Justiça, após fiança e com determinação para que use tornozeleira eletrônica enquanto responde ao processo. Promotor de vaquejadas, ele disse à Polícia que conhecia o ex-PM como interessado na compra de fazendas, mas não sabia de quem se tratava e só percebeu que era perigoso quando o miliciano passou a ameaçá-lo para que o ajudasse. Testemunhas, porém, afirmam que Adriano, à vontade, andava a cavalo e armado pela fazenda de Guimarães. Há pelo menos uma foto em que o fugitivo aparece com um fuzil às costas. O próprio Guimarães admitiu ter visitado o ex-oficial em Sauípe, o que poderia indicar proximidade entre os dois. A Polícia da Bahia investiga a versão do empresário, para saber se abrigou o ex-oficial por medo ou cumplicidade.
A escapada de Adriano, fugindo pelos fundos da casa onde estava e supostamente atravessando um mangue e cruzando a nado uma lagoa, por quase uma hora, tem toques cinematográficos. É preciso determinar se, nesse trajeto, o ex-capitão teve alguma ajuda e se a informação sobre a proximidade de Polícia vazou.
Depois de fugir de Sauípe e se abrigar em uma fazenda de Guimarães, o ex-capitão, ao saber da aproximação da Polícia, fugiu para a casa vazia do vereador Gilsinho de Dedé (PSL), que alega não conhecer o fugitivo. Não está claro se alguém delatou o miliciano.
Foi dito aos agentes, explicitamente, que era prioritária a preservação da vida do miliciano, pela quantidade de informações sobre crimes que ele provavelmente detinha? A estratégia traçada era de confronto ou de cerco?
O ex-oficial não tinha saída. Estava trancado em um imóvel cercado e, sozinho, não teria como resistir e escapar com vida. Não teria sido melhor esperar, negociar e tentar vencê-lo pelo cansaço, levando-o à rendição?
O advogado Paulo Emílio Catta Preta contou ao Estado que seu cliente dissera que não se apresentaria à Polícia, como o defensor sugerira, por avaliar que seria morto na prisão. O treinamento e histórico do ex-oficial no Bope indicavam preparo e disposição para o confronto. Esse perfil do fugitivo certamente era conhecido por seus perseguidores. A invasão da casa sem negociação tinha grande possibilidade de resultar na morte de Adriano, como de fato ocorreu.
Os indícios no cadáver indicam disparos muito próximos. É preciso determinar com certeza se houve troca de tiros ou uma execução de um prisioneiro dominado.
A morte violenta indica a necessidade de preservação do corpo, caso se confirme a execução. A cremação impossibilitaria uma exumação para novo exame cadavérico.
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