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‘Pente-fino’ da Funai aponta sucateamento de frota de aviões

Aeronaves do órgão apresentam situação de abandono, com risco até de incêndio; três estão em estado irrecuperável

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Por Rafael Moraes Moura
Atualização:

BRASÍLIA – Um relatório interno da Fundação Nacional do Índio (Funai) identificou nove aeronaves sucateadas que deveriam garantir atendimento médico para a população indígena de todo o País. Das aeronaves sob a responsabilidade da Funai, três estão em estado irrecuperável, uma acidentada e o restante inoperante. O documento obtido pelo Estado alerta para a situação de descaso e abandono da frota, com risco até de incêndio no caso de aeronaves que estão estacionadas em gramado no aeroporto internacional de Brasília.

Damares Alves, ministra dos Direitos Humanos, pasta que acompanhou o pente-fino na frota da Funai Foto: MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL

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De acordo com o presidente da Funai, Fernando Melo, só o aluguel atrasado com o estacionamento das aeronaves em Brasília já chega a R$ 3 milhões – o triplo do valor que estimado com o leilão das aeronaves nas próximas semanas (R$ 1 milhão). O risco de incêndio ali se deve ao fato de as aeronaves estarem estacionadas no gramado, “um material de fácil combustão” especialmente no período de seca, de acordo com o relatório.

O governo também esbarra em outro problema apontado pelo relatório: quanto maior o tempo em que uma aeronave permanecer inoperante e desabrigada, maior será o custo financeiro necessário à sua recuperação. “Qualquer gestor público ficaria horrorizado com uma situação dessas. Deve ser aberta sindicância para apurar por que a frota ficou abandonada e se deteriorando ao longo do tempo”, disse Melo ao Estado.

Essas aeronaves eram utilizadas para levar vacinas e medicamentos a regiões indígenas, além de transportar equipe médica e técnicos para visitar as regiões. Em 2010, um decreto assinado pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva transferiu a responsabilidade pelas ações de atenção à saúde dos indígenas para o Ministério da Saúde, mas as aeronaves que atendiam as comunidades a serviço da Funai não foram cedidas para essa finalidade.

‘Cemitério de aeronaves’ 

Entre os principais problemas identificados nas aeronaves estão pintura desgastada, sinais de corrosão na estrutura e até sucateamento de equipamentos. Foi o que foi ocorreu no aeroporto de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, onde a equipe de vistoria chegou a uma “espécie de cemitério de aeronaves” em matagal encharcado para avaliar “a aeronave ou o que restou dela”. “No seu interior não se encontrou mais nada além de um amontoado de restos de forro e de poltrona em decomposição”, diz o documento.

Para a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, que acompanhou pessoalmente o pente-fino na frota da Funai, o descaso é imperdoável. “Não vamos encontrar todos os culpados, porque a gente percebe que parte da culpa foi a própria burocracia que o sistema impõe. Temos aeronaves em pátios particulares, e a cobrança está chegando. O que nós vamos apurar no leilão não paga o que está sendo cobrado por pátios particulares. É um absurdo, é insuportável ver isso”, disse Damares.

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Enquanto a frota da Funai se deteriora, o Estado apurou que o Ministério da Saúde gasta cerca de R$ 80 milhões ao ano com o aluguel de aeronaves particulares contratadas para garantir assistência aos povos indígenas. A hora-voo de uma aeronave custa, em média, R$ 2 mil.

Julgamento. O papel da Funai também vai entrar no centro do debate do Supremo Tribunal Federal (STF) no dia 1.º de agosto, quando o tribunal retoma suas atividades. O plenário vai decidir se confirma ou não decisão do ministro Luís Roberto Barroso que suspendeu trecho de medida provisória que transferia a competência para demarcar terras indígenas para o Ministério da Agricultura.

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