13 de outubro de 2016 | 08h00
BRASÍLIA - A retomada de obras inacabadas é uma pauta antiga do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e a recepção da ideia por parte de Michel Temer, à época, presidente em exercício, simbolizou a reaproximação entre os dois peemedebistas e o fim da aliança entre Renan e Dilma Rousseff nos meses derradeiros do processo de impeachment.
Até então, quando Renan ajudava a segurar Dilma no cargo, ambos chegaram a trocar farpas públicas. No fim do ano passado, por exemplo, quando a Executiva do PMDB decidiu conter filiações ao partido, Renan disse que a legenda “não tem dono”. Em resposta, Temer retrucou que “não tem dono nem coronéis”.
Inconformado, Renan chegou a mostrar a senadores o esboço de uma carta em que chamava Temer de “mordomo de filme de terror”. A carta nunca foi entregue, mas o conteúdo chegou aos jornais no dia seguinte. Em outro episódio, durante um jantar de Natal, Renan disse a convidados que era melhor manter Dilma no poder.
Essa percepção, porém, mudou quando o impeachment se tornou irreversível e Temer acabou assumindo a presidência interinamente em maio. Investigado em 11 inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF), por uma questão de sobrevivência política, Renan precisou aderir ao governo.
A partir daí, Renan agiu nos bastidores e se tornou o mediador junto ao governo de demandas de outros senadores, especialmente dos que se declaravam “indecisos” no processo de impeachment, ajudando a conquistar votos pelo afastamento definitivo de Dilma. Na reta final, abandonou o discurso de que não votaria por ser presidente do Senado e brindou Temer com seu voto, favorável ao impeachment.
A retribuição ocorreu depois. Renan acertou com Temer a indicação do aliado Marx Beltrão, deputado federal do PMDB de Alagoas, para o Ministério do Turismo. Agora, Renan negocia com o governo a inclusão de uma pauta sua na agenda prioritária: o projeto que modifica a Lei de Abuso de Autoridade, criticado pelo Ministério Público e outras entidades por representar uma ameaça à Operação Lava Jato. A proposta é praticamente uma autodefesa de Renan, que já tentou pautar o projeto outras vezes sem sucesso. Para ele, será possível aprovar a proposta se a base do governo receber orientação direta do Planalto.
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