PUBLICIDADE

Passeata contra Alca reúne 60 mil no fórum social

Por Agencia Estado
Atualização:

Manifestantes de várias nacionalidades participaram nesta segunda-feira à noite, na capital gaúcha, da "Marcha contra a Alca" (Área de Livre Comércio das Américas) e, para dar início ao protesto, queimaram duas bandeiras dos Estados Unidos no Largo Glênio Peres, em frente ao Mercado Público. A passeata que marcou o fim dos debates do 2º Fórum Social Mundial reuniu cerca de 60 mil pessoas, segundo estimativas dos organizadores e da Brigada Militar. Durante o ato, dez punks foram detidos com facas e pedras, mas não houve incidentes. Eram 20 horas quando um grupo de homens e mulheres ateou fogo às bandeiras norte-americanas, jogadas no chão. Em cima do caminhão de som do Trio Elétrico Malukão, um orador anunciou a destruição, mas advertiu ao microfone: "Cuidado, companheiros! Essa praga de bandeira ainda pode queimar alguém!" João Pedro Stédile, coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), conclamou os ativistas a entrar no que chamou de "guerra" contra o imperialismo. "Não adianta nada protestarmos contra os Estados Unidos se não arregaçarmos as mangas e fizermos uma luta de massas", discursou. Promovida pelo MST, Via Campesina, Central Única dos Trabalhadores (CUT) e partidos de esquerda, como PT, PSTU e PC do B, a passeata tinha bandeiras de vários tons, incluindo a de Cuba. "A campanha brasileira contra a Alca convidou, com muito orgulho, o companheiro Fidel (o presidente cubano, Fidel Castro) para estar aqui", disse Stédile, confirmando informação que havia sido negada pelo comitê organizador do Fórum Social Mundial. Fidel resolveu não comparecer, atendendo a pedido da cúpula petista. "Queremos manifestar que Cuba é, hoje, a primeira trincheira contra a Alca", bradou Stédile, que apontou outras duas "batalhas" a travar, em defesa do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e do povo da Argentina. O líder do MST também fez um trocadilho com o nome do ministro da Fazenda, Pedro Malan. "Vamos dizer ao Pedro Malandro que ele não pode assinar esse acordo com a Alca e ao Fernando Henrique que no fim do ano poremos alguém da oposição no lugar dele", afirmou. Stédile lançou na manifestação o plebiscito da Alca. A votação será promovida na Semana da Pátria, de 1º a 7 setembro, por entidades que participam do movimento internacional, contra a adesão ao futuro acordo. O prefeito de Porto Alegre, Tarso Genro (PT), disse que a cidade é "a capital da resistência". "A Alca significa a destruição da nossa base produtiva e é preciso derrotar o projeto do neoliberalismo, que pretende transformar a América Latina no quintal dos Estados Unidos", disse Tarso. O governador do Rio Grande do Sul, Olívio Dutra, também estava na caminhada. Expressões como "processo de recolonização de nossos países" pontuaram os discursos. O presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Felipe Maia, ligado ao PC do B, pediu um "Viva à pátria grande de Bolívar", enquanto era vaiado e xingado de "pelego" por ativistas de agremiações rivais. O secretário de Relações Internacionais da CUT, Kjeld Jakobsen, exigiu que o Brasil "saia imediatamente das negociações da Alca". Faixas e slogans de apoio à "revolução argentina" marcaram o protesto, no qual alguns militantes batiam panelas, exatamente como os habitantes do país vizinho têm feito para expressar seu desagrado em relação aos governantes, desde a queda do presidente Fernando de la Rúa. "O governo de meu país é hoje mais escravo do que nunca", berrou ao microfone Hebe de Bonafini, uma das Mães da Praça de Maio, que criticiou o presidente da Argentina, Eduardo Duhalde. "Somos governados por um mafioso. Cada vez estamos mais dependentes. Cada vez estamos mais submetidos." Durante o percurso, os manifestantes entremeavam a música Guantanamera com o refrão ´Fidel, Fidel´. Além disso, cantavam o indefectível "Para não dizer que não falei de flores", de Geraldo Vandré. Alguns carregavam estandartes com imagens de Che Guevara, Simon Bolívar e Emiliano Zapata.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.