Partidos tentam envolver Ciro com frente de esquerda

Pré-candidato do PDT pretende visitar Lula na prisão; ele condiciona sua adesão à articulação partidária à criação de uma ‘pauta concreta’

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Por Ricardo Galhardo e  Daiene Cardoso e Pedro Venceslau
Atualização:

O pré-candidato do PDT à Presidência da República, Ciro Gomes, poderá visitar na prisão o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado na Operação Lava Lato. Ele admitiu participar da articulação para a criação de uma frente de partidos de esquerda no País. Alvo de críticas por não ter comparecido ao ato político que antecedeu a prisão do petista, Ciro disse que sente “amargura e aflição” com o episódio.

O pré-candidato à Presidência do PDT, Ciro Gomes. Foto: Sergio Moraes/Reuters

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Dirigentes do PCdoB, PSOL, PT e PSB que participam da criação de uma frente de esquerda com objetivo de contrapor o que consideram um avanço da direita trabalham para incluir Ciro nas articulações. Até agora, só o presidente do PDT, Carlos Lupi, tem participado das reuniões. 

Nesta segunda-feira, 9, em Porto Alegre, Ciro não descartou, mas condicionou sua participação ao estabelecimento de uma “pauta concreta”. “Não se pode fazer uma reunião para afirmar um adjetivo ou negar outros. É preciso mostrar que temos uma resposta melhor do que a direita”, afirmou ele.

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O presidenciável do PDT é um potencial favorecido com a ausência de Lula na disputa presidencial. A expectativa no seu partido é que ele possa herdar votos de Lula no Nordeste.

Segundo Juliano Medeiros, presidente do PSOL, a ideia da frente partidária é atrair entidades representativas da sociedade não necessariamente ligadas à esquerda. “Vamos discutir o quanto os candidatos vão se envolver”, disse ele.

“Não podemos perder de vista a necessidade de um diálogo mais amplo com setores democráticos da sociedade. Trabalhamos para envolver mais o Ciro”, afirmou o líder do PCdoB na Câmara, Orlando Silva (SP). Segundo ele, o grupo deve lançar um manifesto no dia 16 com um programa mínimo comum.

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‘Solidariedade’. Ciro e Lupi devem visitar o petista na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba. “Compete agora a nós termos solidariedade ao ser humano, que, no meu modo de ver, está sendo condenado por algo que não tinha prova cabal”, declarou Lupi. Segundo ele, os pedetistas não podem ser criticados por não participar do evento político em São Bernardo do Campo.

O presidenciável passou os últimos dias nos Estados Unidos para participar de evento promovido pela Universidade Harvard. O presidente da legenda estava no Pará no sábado, dia da prisão do ex-presidente. 

“Eles esquecem toda a solidariedade que prestamos. Até poema eu fiz, coloquei na página do partido, o Ciro fez uma nota. A vida toda prestamos solidariedade. Por que não vai num dia, como eles queriam, não presta mais? Eu prefiro não considerar, prefiro achar que isso é do calor da emoção do momento difícil”, disse o dirigente pedetista.

Lupi negou que a ausência de Ciro no ato político deste sábado, 7, signifique um distanciamento dos petistas. “Como é que a porta pode estar fechada (para o Ciro)?”, disse.

Em Porto Alegre, onde participou de um debate entre pré-candidatos à Presidência, Ciro evitou falar sobre o ativo eleitoral de Lula, que deve ser enquadrado na Lei da Ficha Limpa e ficar impedido de concorrer novamente ao Planalto. “O Brasil precisa construir uma liderança forte”, disse apenas ao ser questionado sobre o assunto. 

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“A gente tem de ter muito respeito, paciência, compreensão e sensibilidade com o que está acontecendo com o PT e especialmente com o Lula. Não é trivial. Eu mesmo sinto amargura, aflição”, afirmou o presidenciável do PDT. 

Ciro disse também que o Supremo Tribunal Federal (STF) deve decidir o quanto antes a “ida e vinda” sobre a prisão após segunda instância, para que “todos possam ser privilegiados, inclusive e especialmente o ex-presidente Lula”. Apesar disso, ele fez uma ressalva ao discordar da expressão “preso político” usada pelos petistas para se referir a Lula. “Você pode considerar injusta a culpa do Lula, mas daí a extrapolar por esse caminho parece estranho”, disse Ciro. / COLABOROU TAÍS SEIBT, ESPECIAL PARA O ESTADO