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Partidos da base iniciam guerra por cargos do segundo escalão do governo

Aliados da presidente Dilma disputam nos bastidores espaços em chefias de autarquias, estatais e superintendências regionais

Por João Domingos e Ricardo Della Coletta
Atualização:

BRASÍLIA - Passada a definição dos nomes dos 39 ministérios, concluída nos últimos dias, partidos aliados já iniciaram a disputa pelos cargos de segundo escalão distribuídos em autarquias, estatais e superintendências regionais que, juntos, têm capacidade de investimentos de R$ 105,7 bilhões para 2015. 

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O partido que deu início à guerra pelo segundo escalão e troca de controle das empresas foi o PP. A primeira fatia disputada pelos partidos está no Ministério da Integração Nacional, herdado pela legenda, e que tem forte atuação no Nordeste. Por considerar que foi “rebaixado” no rearranjo das cadeiras ao ter perdido o Ministério das Cidades para o PSD do ex-prefeito Gilberto Kassab, o PP pleiteia agora a nomeação de todos os postos-chave dos órgãos vinculados à pasta, sem importar qual é a sigla que hoje os comanda. 

O principal objeto de desejo é o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs). O diretor-geral Walter Gomes de Souza é apadrinhado do presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN).

O PP também pressiona para tirar a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) do arco de influência do PT e a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) do PROS. Até 2013, a direção da Codevasf era cadeira cativa do PSB do ex-governador pernambucano Eduardo Campos, que morreu num acidente aéreo, em agosto, durante a campanha eleitoral. Quando Campos rompeu com a presidente Dilma Rousseff, o agora ministro da Defesa, Jaques Wagner, reivindicou o direito de indicar os dirigentes da autarquia. E o fez, levando à presidente Dilma o nome do aliado Elmo Vaz de Matos.

O Banco do Nordeste (BNB) também deve entrar na compensação pelo “rebaixamento” do PP, conforme negociação entre a presidente da República e o presidente do partido, senador Ciro Nogueira (PI), fechada no mês passado quando foi decidido que o Ministério das Cidades passaria para o PSD. Nogueira deve apresentar o nome do indicado ainda este mês. O atual presidente do banco, Nelson de Souza, é ligado ao PT do Piauí. “É natural que o PP indique os dirigentes dos órgãos ligados ao Ministério da Integração”, disse o líder do partido na Câmara, Eduardo da Fonte (PE). Ele justificou o início da briga pelo segundo escalão assim: “O PMDB tem seis ministérios e o PSD tem as Cidades e o Ministério da Micro e Pequena Empresa”. 

Petistas. O PT também briga pelo segundo escalão, em especial integrantes da corrente majoritária Construindo Um Novo Brasil (CNB), que afirmam ter perdido espaço para a minoritária Democracia Socialista (DS) na dança de cadeiras do primeiro escalão. Os alvos são estatais, como a Eletronorte, que tem orçamento para investimentos de R$ 1 bilhão e hoje é comandada por Tito Cardoso de Oliveira Neto, ligado ao senador Jader Barbalho (PMDB-PA). O PR, reconduzido ao Transportes, quer controlar o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). Com orçamento de R$ 11,3 bilhões, a autarquia foi entregue a Tarcísio Gomes de Freitas, funcionário de carreira da Controladoria-Geral da União (CGU) depois da saída do general Jorge Fraxe, este uma espécie de interventor depois do escândalo que tirou o então ministro Alfredo Nascimento da pasta, em 2011. O candidato mais forte do partido para o Dnit é o deputado Luciano Castro (RR), ex-líder na Câmara, que foi derrotado na eleição para o Senado. 

O PMDB, que neste ano teve sua cota ministerial aumentada de cinco para seis pastas, também já está de olho no segundo escalão. E a primeira estatal a cair no campo de visão do partido foi a Embratur, hoje sob o comando de Vicente José de Lima Neto, ligado ao PC do B. A Embratur tem orçamento de investimentos de R$ 170 milhões e deve ter muita visibilidade nos próximos 18 meses, por causa da Olimpíada do Rio de Janeiro do ano que vem. 

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Licenciado. O PMDB quer ainda manter a presidência da Transpetro, cujo titular, Sergio Machado, afilhado do presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), se afastou temporariamente depois de ser citado na Operação Lava Jato da Polícia Federal. A operação apurou desvio de cerca de R$ 10 bilhões na Petrobrás. O partido já faz também planos para tomar a direção da Companhia Hidrelétrica do Vale do São Francisco (Chesf) do PT de Pernambuco.

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