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Parlamentares triplicam Fundo Partidário

Relator do Orçamento da União aprovado ontem, Romero Jucá apresentou emenda que destina R$ 867,5 mi para custear siglas

Por Ricardo Della Coletta
Atualização:

BRASÍLIA - Mesmo em um ano de restrição de gastos, os deputados e senadores decidiram triplicar a verba destinada para o custeio dos partidos políticos, o chamado Fundo Partidário. O senador Romero Jucá (PMDB-RR), relator do Orçamento da União para 2015, alocou em uma emenda de Plenário cerca de R$ 867,5 milhões para o fundo, frente a R$ 289,5 milhões propostos pelo Poder Executivo em agosto do ano passado. A proposta orçamentária foi analisada em sessão do Congresso e aprovada no fim da noite de ontem. O Orçamento de 2015 deveria ter sido analisado no fim do ano passado, mas não houve tempo nem acordo para a realização da votação.

Senador Romero Jucá discursa no Congresso Foto: Dida Sampaio/Estadão

O aval do Congresso é pré-requisito para que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, possa anunciar um congelamento de despesas dos ministérios, uma das principais sinalizações do ajuste fiscal aguardada pelo mercado financeiro. A expectativa é que o corte possa chegar a R$ 80 bilhões. O Congresso vem "turbinando" o dinheiro do Fundo Partidário desde 2011. Mas os aumentos nunca foram tão expressivos e sempre giravam em torno de R$ 100 milhões. Neste ano, os parlamentares vinham pressionando por um incremento recorde em razão de dois fatores: a pulverização dos partidos na Câmara fez com que o bolo para as legendas tradicionais diminuísse, uma vez que 95% fundo é distribuído de acordo com o resultado alcançado pelas siglas na Casa. Além do mais, parlamentares e dirigentes partidários ouvidos pelo Broadcast Político, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, afirmaram que a Operação Lava Jato - investigação que apura desvios de recursos públicos da Petrobrás e o pagamento de propina a políticos - afugentou doadores. Opinião pública. Jucá negou que o incremento do fundo partidário possa causar desgaste com a opinião pública. Segundo ele, os pedidos dos partidos para financiar as atividades políticas, se somados, chegavam a R$ 2 bilhões. Para Jucá, a "turbinada" serve para iniciar um debate sobre a viabilidade do financiamento público de campanha, uma das principais bandeiras do PT na discussão da reforma política. "É preciso ver como se comporta a opinião pública em relação ao financiamento público de campanha", afirmou Jucá. "Se houvesse o financiamento público de campanha o valor seria muito maior." Segundo o relator, em anos eleitorais, o Orçamento da União teria de reservar um valor que "não é razoável para as campanhas", de cerca de R$ 5 bilhões. Jucá e seu partido, o PMDB, são a favoráveis a um sistema de custeio das eleições que misture recursos públicos e privados. O aumento do Fundo Partidário não entrou em negociação com o governo.Emendas. O benefício não foi o único dado aos deputados e senadores no Orçamento de 2015. Cada novo parlamentar foi contemplado com R$ 10 milhões em emendas, que são usadas para abastecer seus redutos eleitorais. Os antigos congressistas, por sua vez, têm cada um R$ 16 milhões em emendas. Para garantir as emendas aos novos parlamentares, Jucá promoveu uma engenharia financeira e remanejou cerca de R$ 2,7 bilhões destinados à Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), fonte usada nos últimos anos para custear o desconto na conta de luz. Mas o reajuste na tarifa de energia fez com que esse dinheiro - que o governo pretendia usar para ajudar na recuperação das contas púbicas - ficasse disponível.

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