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Para tentar salvar a pele, Lula adota tom de guerra

Por Marcelo de Moraes
Atualização:

Esqueçam o Lulinha Paz e Amor. Na inflamada fala que fez aos seus aliados logo depois de ter sido conduzido coercitivamente para prestar depoimento sobre seu suposto envolvimento em irregularidades investigadas pela Operação Lava Jato, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva adotou um discurso em tom de guerra. Criticou a investigação, desqualificou as acusações, atacou a imprensa e prometeu ir para as ruas a partir da semana que vem. Assumiu, principalmente, o papel de vítima, atribuindo sua situação de investigado à ousadia de ter enfrentado as elites do País para permitir que pobres saíssem da miséria.

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Esse personagem já é conhecido na trajetória recente do petista. Mas agora Lula não tem outra opção. O aumento do cerco policial sobre ele e seus parentes e auxiliares diretos obrigam o ex-presidente a procurar algum tipo de reação para tentar inverter o jogo. Com o governo da presidente Dilma Rousseff fragilizado e com o PT esfacelado politicamente, Lula se transformou na última cidadela de defesa de seu grupo. O tom irônico e forte de sua fala é uma tacada final para mobilizar a militância petista e os movimentos sociais. Como Dilma está imobilizada pelo seu enfraquecimento, restou apenas Lula com alguma força para comandar uma reação.

O problema é que o petista faz uma aposta perigosa ao adotar o tom de guerra. Afinal, ao decidir procurar o apoio das ruas, corre o risco de não conseguir adesões suficientes ou de apenas insuflar desordens. O risco é que as investigações feitas pela Lava Jato têm produzido revelações que só têm piorado sua situação e de todo o governo. A prisão do marqueteiro João Santana, responsável pelas campanhas petistas, e as acusações feitas contra o governo pelo senador Delcídio Amaral (PT-MS), numa delação premiada, provocaram forte estrago político e influenciam negativamente a opinião pública.

Lula adota o grito de guerra no lugar de apresentar explicações convincentes que desmontem as acusações. Pode até conseguir alguma coisa. Mas se não trouxer as ruas para seu lado, corre o risco de abrir o caminho para que o processo de impeachment contra Dilma se torne irreversível.

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