Em conversa com assessores e amigos, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), avaliou que as declarações do ex-deputado e usineiro João Lyra à revista Veja, confirmando a sociedade entre os dois na compra de uma rádio e um jornal, intermediada por "laranjas", não agravam a situação política dele. Para o senador, a afirmação de Lyra só referenda sua defesa de que está sendo "alvo de disputa política regional". Na semana passada, em discurso na tribuna, Renan afirmou que é vítima de adversários políticos derrotados em Alagoas, citando João Lyra (PTB) e a ex-senadora Heloísa Helena (PSOL). Veja também: Cronologia do caso Renan Veja especial sobre o caso Renan No último sábado, quando a revista chegou às bancas, Renan disparou telefonemas antes de embarcar para São Paulo, onde passou o final de semana com a mulher em compromissos pessoais. "Ele não será o meu Eriberto", disse Renan, segundo relato de amigos. Foi uma referência a Eriberto França, motorista da secretária particular de Fernando Collor de Mello, Ana Acioli, e que apresentou recibo de pagamento com cheque de "laranjas" do ex-tesoureiro de Collor, Paulo César Farias. Lyra disse à Veja que Renan comprou a JR Radiodifusão em sociedade com ele, em 1999, investindo R$ 1,3 milhão no negócio. O usineiro contou que, como o senador não podia aparecer, registrou a empresa em nome de dois "laranjas": Renan Calheiros Filho, o Renanzinho, e Tito Uchôa, seu primo. A sociedade secreta teria durado de 1999 a 2005. Hoje, o usineiro e o senador são adversários políticos. Renan nega as acusações e diz estar sendo vítima de uma "campanha eleitoral" sem provas. Prestes a enfrentar mais dois processos no Conselho de Ética - um do caso Schincariol (à espera, apenas, de relator) e o da sociedade com "laranjas" em Alagoas (que deve ser aprovado pela Mesa Diretora nesta quinta-feira) -, Renan tem tentado aparentar tranqüilidade. Tem insistido que não pretende deixar o comando do Senado, apesar do aumento da pressão para que se afaste do cargo até a conclusão das investigações. Corregedoria do Senado O corregedor do Senado, Romeu Tuma (DEM), afirmou nesta segunda-feira que vai pedir auxílio da Polícia Federal para localizar o usineiro João Lyra. Ele será convidado a esclarecer como foi montada sua sociedade secreta com Renan na compra de uma emissora de rádio e um jornal, em Alagoas. Segundo a rádio CBN, Lyra será convidado e não convocado pela Corregedoria do Senado, que não tem essa autoridade. Mas o convite ainda não foi feito pois o suposto 'sócio' de Renan não foi encontrado. A confirmação do negócio, feita por Lyra em entrevista à revista Veja, preocupou o Planalto e fez aumentar o coro dos que pregam sua renúncia. Agora, em mais uma tentativa de fechar o cerco, a oposição também quer que o Conselho de Ética convoque o usineiro para depor. "Vou entrar em contato com João Lyra para ouvi-lo e investigar essa história. Os indícios são graves e é preciso saber se existiu algum contrato de gaveta", afirmou Tuma. Para Renato Casagrande (PSB-ES), Lyra terá de ser chamado ao Conselho de Ética assim que for nomeado o relator da nova representação protocolada contra o presidente do Senado para cuidar das denúncias que envolvem as emissoras de rádio. Terceiro processo A confirmação pelo antigo sócio de Renan de que o senador usava "laranjas" para esconder sociedade dos dois em empresas de comunicação praticamente selou a decisão da Mesa da Casa de mandar para o Conselho de Ética o terceiro pedido de abertura de processo contra o presidente do Congresso. A representação contra Renan, feita por PSDB e DEM, vai ser votada em reunião da Mesa do Senado marcada para quinta-feira. Hoje, o segundo vice-presidente do Senado, Álvaro Dias (PSDB-PR), deu como certo o envio da representação para o conselho. "Não resta alternativa. A Mesa enviará (a representação ao Conselho). A decisão é de natureza formal", afirmou. Perícia A Polícia Federal informou ao Conselho de Ética do Senado que entrega na próxima quinta-feira o resultado da perícia nos documentos de defesa do presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), com uma resposta conclusiva sobre os 30 quesitos formulados. O laudo vai dizer se tem origem legal a fortuna de Renan, estimada em cerca de R$ 10 milhões, avaliar a legalidade das operações de venda de gado, com as quais ele alega ter faturado R$ 1,9 milhões em quatro anos e atestar se ele usou recursos próprios, como alega, no pagamento de despesas pessoais, como a pensão paga à jornalista Mônica Veloso, com a qual tem uma filha. O laudo está sendo concluído pelo Instituto Nacional de Criminalística (INC). O laudo do INC deveria ser entregue amanhã, mas sua conclusão foi adiada devido à demora na entrega de todos os documentos. var keywords = ""; var keywords = "";