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Para procurador, 'estão tentando parar a Lava Jato'

Carlos Fernando dos Santos Lima critica projeto de lei que altera lei de abuso de autoridade de Renan Calheiros e tentativa do presidente da Câmara de colocar em votação medida provisória que altera regras de acordos de leniência

Foto do author Francisco Carlos de Assis
Por Francisco Carlos de Assis (Broadcast)
Atualização:

O Procurador do Ministério Público Federal (MPF) Carlos Fernando dos Santos Lima, que integra a força-tarefa da Operação Lava Jato, afirmou, na manhã desta quarta-feira, 26, que o País vive uma situação na qual "estão tentando ressuscitar diversos mecanismos a fim de parar as investigações no âmbito da Lava Jato". O procurador conversou com o Broadcast, serviço de notícia em tempo real da Agência Estado, momentos antes do início do IX Congresso Anual da Associação Brasileira de Direito e Economia (ABDE), que está sendo realizado até essa sexta-feira, na Capital.

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A declaração de Santos Lima é uma referência à proposta do presidente do Senado Federal, Renan Calheiros (PMDB-AL), de tentar aprovar projeto que altera a Lei de Abuso de Autoridade. A lei data de 1965, mas o projeto para sua reforma, de autoria de Renan, é de 2009 e estava engavetado até agora. Contrário à aprovação do PL da forma como ele está, Santos Lima diz que a Lava Jato é um ponto fora da curva da normalidade que é a impunidade no Brasil. "Então, investigações como ela, como a Acrônimo e Zelotes, estão ficando cada vez mais comuns. E uma das tentativas de resistência que o poder político tem é nos impor projetos de lei como o do abuso de autoridade", disse o procurador. "A lei é antiga e precisava realmente de uma atualização. Mas o PL discute, por exemplo, a carteirada que muitas autoridades dão efetivamente. Entretanto, isso não está previsto na lei. Ela tem tipos penais que punem, por exemplo, um juiz que decidir receber uma ação e essa ação for considerada por um tribunal como sem justa-causa", ponderou Santos Lima. Ele questiona sobre qual é o procurador que vai oferecer uma acusação sujeitando-se, eventualmente, a ser processado por estar fazendo o seu papel. "É mais ou menos como a imprensa. Você tem o dever de comunicar, mas não quer ser punido porque isso implica na perda da liberdade de imprensa. Nós também temos a obrigação de fazer a acusação se entendermos que é o caso de uma acusação e não podemos ser punidos por conta de uma acusação feita", comparou o procurador.Leniência. O procurador do MPF também criticou a medida provisória de leniência. "O presidente da Câmara (Rodrigo Maia) está falando em colocar em votação a nova lei de leniência. E não houve discussão a respeito dela. Será que não querem brecar grandes leniências que estão prestes a acontecer no Brasil e que vão entregar, possivelmente, muitos fatos envolvendo o status quo político?", questionou o procurador. Para ele, não é o momento de se aprovar leis sem uma ampla discussão para que o povo entenda os objetivos disso. "O que está acontecendo hoje é uma tentativa do status quo se manter no poder", criticou.

A Medida Provisória 703/2015, que modificou as regras para os acordos de leniência entre a administração pública e empresas acusadas de cometer irregularidades, teve o prazo de tramitação encerrado no final de maio e perdeu a validade. Editada em 18 de dezembro pela presidente Dilma Rousseff, a medida provisória tem o objetivo de permitir que empresas investigadas por corrupção em operações da Polícia Federal, como a Lava Jato, voltem a prestar serviços para o poder público.  "Eu espero que projetos como esse não passem pela aprovação do Congresso. A imprensa e nós temos de falar e mostrar para a população o que o poder político está fazendo. A única forma de impedir o poder político de fazer isso é fazer ele ter receio de ser responsabilizado politicamente pela população", disse Santos Sousa, acrescentando que se não fosse a pressão da população, teria sido aprovada a MP 703, que mudava a Lei Anticorrupção.

Uma nova proposta sobre acordo de leniência foi apresentada no início de maio por parlamentares do DEM e PPS. Trata-se do Projeto de Lei 5208/2016, que tem o apoio de vários juristas e foi subscrito por deputados dos dois partidos. Segundo o deputado Raul Jungmann (PPS-PE), a advocacia pública, o Ministério Público e o Judiciário devem fazer parte dessa celebração de acordos, o que não é previsto no texto atual. Outro projeto sobre o tema (PL 3636/2015, do Senado) está em análise em uma comissão especial da Câmara dos Deputados.

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