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Para presidente, decisão de demitir é tarefa espinhosa

Episódio envolvendo Waldir Pires na Defesa mostrou dificuldade de Lula na hora de afastar auxiliares

Por João Domingos e BRASÍLIA
Atualização:

O Diário Oficial da União de quinta-feira passada circulou com ato assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, segundo o qual Waldir Pires fora afastado do Ministério da Defesa "a pedido". O detalhe revela a dificuldade que Lula tem de tirar da função qualquer um de seus auxiliares, mesmo os envolvidos em corrupção. Não é o caso de Pires, sobre o qual não há nenhuma suspeita a respeito de sua honorabilidade - contra ele pesam questionamentos sobre competência e poder de decisão. Sempre que teve de lidar com o assunto demissão o presidente mostrou desconforto. Foi assim em casos anteriores; foi assim com Waldir Pires. Tanto é que, na quarta-feira, no início do discurso de posse do novo ministro da Defesa, o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Nelson Jobim, Lula disse que estava sofrendo muito. "Na vida de um presidente da República, o momento mais difícil é a troca de um companheiro por outro companheiro. Mas na vida de um presidente você é obrigado a fazer isso muitas vezes", queixou-se, como já havia feito diversas vezes. Desde que assumiu o governo, em janeiro de 2003, Lula mostrou que seu estilo está longe de ser o de um presidente que toma atitudes na hora. Costuma deixar - como fez com Pires, que há pelo menos dez meses é tachado de incompetente - que os ministros ou auxiliares até de terceiro escalão se desgastem até pedirem para sair. Busca fugir da culpa pela decisão de afastar um amigo do cargo do governo. CASOS PASSADOS O primeiro caso rumoroso de um auxiliar em cargo importante que se envolveu em irregularidades e não foi demitido ocorreu em 2004. Flagrado numa fita de vídeo cobrando propina do empresário de jogos Carlos Ramos, o Carlinhos Cachoeira, o então assessor da Casa Civil, Waldomiro Diniz, protagonizou o primeiro grande escândalo deste governo, às vésperas do aniversário de 24 anos do PT. Waldomiro também saiu do governo "a pedido". Em 2005, o então ministro da Casa Civil, José Dirceu, foi apontado pelo presidente do PTB, Roberto Jefferson (RJ), como "o mentor" do esquema de caixa 2 feito pelo PT, que passou a ser conhecido por mensalão. A CPI dos Correios concluiu que os operadores da trapaça tinham sido o empresário Marcos Valério e o ex-tesoureiro petista Delúbio Soares. Dirceu se sustentou no cargo por cerca de 20 dias. Como não foi afastado, pediu demissão. O mesmo ocorreu com o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci, que dissera, na CPI dos Bingos, que não freqüentava mansão onde ocorriam ações de lobby e festas. Mas o caseiro Francenildo dos Santos Costa, o Nildo, testemunhou que o havia visto lá. Para se defender, Palocci se envolveu na violação do sigilo bancário do caseiro. Perdeu poder até ser levado a pedir demissão. Lula, ao anunciar Guido Mantega no seu lugar, disse que sofria muito. Com participação no mesmo caso, Jorge Mattoso, então presidente da Caixa Econômica Federal, também pediu demissão.

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