Para petistas, prefeito de Salvador não se reelegerá

PUBLICIDADE

Por Tiago Décimo
Atualização:

A aliança nacional entre PT e PMDB está em risco na Bahia. No início da semana, o PT decidiu retirar o apoio que dava à prefeitura de Salvador, comandada pelo PMDB. Por trás da decisão, estão as próximas eleições municipais, nas quais o PT quer ter candidato próprio. Nos bastidores, os petistas dizem duvidar que o prefeito João Henrique Carneiro (PMDB), candidato natural à reeleição, consiga emplacar um segundo mandato. Pesquisas realizadas na capital baiana têm dado a ele o quarto lugar nas intenções de voto, entre 10% e 15% do eleitorado. À frente de Carneiro, aparecem o deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (DEM), o presidente do Diretório Estadual do PSDB, Antônio Imbassahy, e o radialista Raimundo Varella (PR). ACM Neto, Imbassahy e Varella estão com empate técnico, em torno de 20% das intenções de voto. "Nossa decisão faz parte da estratégia de darmos mais opções aos eleitores para garantir a presença da base aliada do governo federal no segundo turno da eleição", diz o presidente regional do PT, Jonas Paulo. Os principais pré-candidatos do partido à eleição na capital baiana são os deputados federais Nelson Pellegrino e Walter Pinheiro. A saída do PT da administração municipal, onde o partido coordenava quatro secretarias - entre elas, a que conta com o maior orçamento, a da Saúde - e ocupava cerca de 200 cargos, causou indignação entre peemedebistas baianos, como o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, e o prefeito de Salvador, que hoje rompeu o silêncio sobre o assunto. Surpresa Carneiro afirmou ter sido pego de surpresa pela decisão petista e se disse vítima de uma "traição muito forte". "O golpe está doendo muito, ainda mais considerando o apoio irrestrito que temos dado tanto ao governo estadual e ao governo federal, ambos do PT", afirma. Para reforçar a tese de traição, ele lembrou de episódios do passado político recente. "Na eleição de 2006, eu era prefeito de Salvador, a terceira maior cidade do País, estava no PDT e tinha 40% nas pesquisas para ser governador, enquanto o (atual governador Jaques) Wagner (PT) tinha 10%", afirmou. "Não me lancei candidato porque o Geddel veio me procurar e pedir para que fizéssemos uma aliança entre todos os partidos da base do governo federal para vencer - e atendi ao pedido." O prefeito também alega que, à época, fez parte da base de apoio da candidatura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à reeleição, apesar das pressões contrárias. "O PDT tinha um candidato próprio à presidência, o senador Cristovam Buarque (DF), mas mantive meu apoio a Lula, sendo coerente com o projeto com o qual estava comprometido." Geddel também qualifica como traição a decisão petista, mas procura evitar atritos. "Agora, é olhar para frente e continuar trabalhando para que possamos estar no segundo turno das eleições", disse. Partidários do PMDB acreditam que a saída do PT do Poder Executivo municipal pode servir de pretexto para que o ministro da Integração Nacional lance a candidatura a governador nas eleições de 2010, contra Wagner. Geddel, que afirmou ter se "preparado para ocupar o cargo", nega a intenção. Mesmo entre petistas, a saída do partido da base aliada do Executivo municipal é motivo para discussões. Na terça-feira, o ex-chefe da Casa Civil do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, José Dirceu, publicou no blog que escreve que a decisão é um erro, "independente do resultado da disputa no primeiro turno". Imagem "A imagem é que o PT só faz alianças quando lhe interessa e não abre mão para aliados quando esses correm riscos e necessitam de apoio", diz o texto. "O PMDB baiano foi decisivo para a vitória do governador Jaques Wagner. Eleito pelo PDT, João Henrique filiou-se ao PMDB de comum acordo com o governador e com o PT. Os petistas participaram de seu governo nesses últimos dois anos. Qual é a razão para sair agora?" O governador Jaques Wagner reagiu ao texto. "Para a prefeitura de São Paulo, o PT sempre teve candidato próprio, nunca apoiou ninguém", disse. "Pelo histórico, o Zé tem o direito de avaliar a decisão do PT baiano, mas promover a discórdia não é bom para ninguém. Que cada um vá cuidar do seu." Wagner teme que a repercussão da saída do PT da prefeitura afete o apoio que tem do PMDB na condução do governo da Bahia ou haja uma quebra da parceria às vésperas das eleições a governador, mas diz não acreditar nessas possibilidades. "O problema com a prefeitura não deve contaminar as outras instâncias da parceria", declarou. "Não houve um problema com o PMDB, mas com a administração de João Henrique." Para ele, o ideal seria que os partidos mantivessem a aliança nas eleições de uma cidade como Salvador, mas que os diretórios têm a liberdade de decidir se querem ou não lançar candidato. "Faz parte do jogo político", afirmou. "Em 2004 (últimas eleições municipais), também foi assim: tínhamos três candidatos da base aliada de Lula à prefeitura, o João Henrique, a (deputada) Lídice da Mata (PSB) e o (deputado) Nelson Pellegrino (PT)." Pré-candidato De acordo com ele, o importante, agora, é que o PT apresente logo o pré-candidato à população. O governador, porém, não descarta a possibilidade de a estratégia petista não funcionar e o segundo turno ficar entre partidos da oposição ao governo federal, em especial DEM e PSDB. "Tudo pode acontecer, mas nesse caso não tenho dúvida que apoiaremos o PSDB, que faz parte de nossa bancada no Estado", afirma. "Todos sabem o grupo contra o qual lutamos por tanto tempo e continuamos lutando hoje no Estado", diz, referindo-se ao DEM do senador Antonio Carlos Magalhães, que governou a Bahia por 16 anos seguidos antes de ser derrotado por ele.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.