Para partidos, militância fará diferença nas eleições

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Por WLADIMIR D'ANDRADE
Atualização:

Durante meses os militantes políticos escutaram, debateram e levaram os anseios e as necessidades dos brasileiros das mais diferentes regiões para as cúpulas dos partidos. Daqui a cerca de um mês, esse movimento estará no sentido contrário: as legendas colocarão seus exércitos nas ruas para divulgar o nome e as propostas dos candidatos aos eleitores para tentar convencê-los de que seus indicados são os mais bem preparados para administrar o País. E é esse movimento, segundo avaliação dos próprios políticos, que poderá fazer a diferença nas urnas.Os três partidos com candidatos mais bem posicionados nas pesquisas de intenção de voto - PT, PSDB e PV - são unânimes em apontar o papel fundamental de suas militâncias. "Para ganhar uma eleição é preciso que pessoas façam campanha. E o militante é quem defende as ideias do partido e que faz essas ideias chegarem aos simpatizantes", afirma André Régis, cientista político e responsável pelo programa do PSDB para a formação de lideranças tucanas, o Comunicar.A mesma opinião tem Marco Antonio Mroz, um dos coordenadores nacionais da campanha da pré-candidata Marina Silva, do PV. "É a única maneira de fazer a diferença. Seria impossível atingir os 12% das intenções de voto que temos hoje sem a nossa militância. Não temos estrutura para isso tudo, nem dinheiro e nem tempo de TV", afirma.Já o secretário Nacional de Comunicação do PT e deputado federal, André Vargas (PR), vai além. Para ele, esse exército de defensores é o que "dá vida" a uma legenda política. "Nossa estratégia central é basicamente fazer a ideia correr, fazê-las serem transmitidas. E esse é justamente o papel da militância", explica.Cada partido ao longo de sua história formou militâncias com características diferentes. Para o cientista político Rubens Figueiredo, o PT tem uma militância concentrada nos grandes centros urbanos, aguerrida e muito bem preparada para discutir as bandeiras do partido. Já a militância tucana, no seu entender, se concentra basicamente na classe média e adota um perfil mais light. O PV tem um quadro mais novo, do século 21, com um discurso sofisticado, avalia Figueiredo, complementando que às vezes esse perfil não condiz com as preocupações do eleitorado mais pobre.O cientista político do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Roberto Romano aprofunda esse retrato. De acordo com ele, a militância do PT é formada por três grupos fundamentais: os católicos progressistas, que operam nas paróquias e ONGs locais; os militantes tradicionais de esquerda, trotskistas e marxistas e os dissidentes, que podem dar apoio à pré-candidata Dilma Rousseff apenas num eventual segundo turno. "São pessoas que têm relação com deputados, prefeitos e outros políticos, sem o compromisso ideológico", explica.Romano afirma que o PSDB não é conhecido como um partido de militância, apesar de ter um total de filiados muito próximo ao número do PT - 1,31 milhão e 1,39 milhão, respectivamente, de acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). "É composta basicamente pela classe média escolada que não tem a forma agressiva de militância do PT. São mais contidos", afirma. Para ele, a atuação dos tucanos tende a se dirigir a formas mais sofisticadas de militância, como redes sociais e blogs.Entre tucanos e petistas, esclarece Romano, se encontra o PV, com 273 mil filiados segundo o site do TSE. "É um partido com uma militância de tradição liberal que hoje tem uma posição neutra." Porém, alerta de que à medida que o partido cresce - e a filiação de Marina Silva dá um novo impulso - a legenda amplia sua visão ideológica. "Hoje o PV está muito atrelado à causa ambiental", diz.MarraA assessora Miriam Hermógenes, que trabalha com um vereador do PT, é uma assídua militante desta legenda. Ela conta que se formou militante "na marra", no fim da década de 90, ao integrar a União dos Movimentos de Moradia (UMM). Em 2000 acabou se filiando ao PT e, logo depois, foi convidada a participar de trabalhos dentro da legenda. Hoje sua função é justamente fazer a ponte entre as ações e ideias dos movimentos em todo o Estado com o partido, ou seja, a intermediação entre a legenda e a sociedade. Segundo ela, trabalha para que o partido assuma as bandeiras debatidas por esses movimentos.Essa aproximação do militante com o eleitor e deste com o partido não acontece somente em período eleitoral. São inúmeros eventos durante o ano em que o militante é instigado a discutir e defender as ideias da sigla. São debates, palestras, manifestações, encontros em instituições, grupos de trabalho e as mais diversas discussões para a solução de problemas que estão visíveis ou ainda latentes nas diversas regiões do País.Esses programas, aliás, tomam boa parte da rotina dos membros - filiados ou não - dos partidos. É o caso de Roberta Moreno, que está há quatro anos no PV. Apaixonada pelas suas atividades políticas, ela define sua atuação como uma "doação". "(As atividades) consomem tempo da minha vida e dinheiro, que gasto para ir aos eventos e manifestações, mas as pessoas precisam entender que a política é uma oportunidade para fazermos parte de uma mudança de toda a sociedade", diz.Buscar dentro desse engajamento melhorias para a sociedade também é a bandeira de Aparecida Almeida, militante que faz parte dos quadros de fundação do PSDB. Cidinha, como é chamada, hoje organiza o Tucanos de Fogo, grupo que se reúne uma vez por mês para uma confraternização entre os militantes da sigla e para discutir propostas políticas e pensar soluções para os diversos problemas do País. "Política para benefício próprio não vira", destaca.VirtualApesar da força da militância numa campanha, Rubens Figueiredo alerta de que a vitória de um candidato nas urnas não está vinculada exclusivamente a esse trabalho de campo. Hoje as chamadas mídias de massa - rádio e televisão - atingem muito mais pessoas e têm papel fundamental num pleito, sobretudo no vasto território brasileiro. Além disso, o fenômeno e popularização da internet abriu espaço para um outro tipo de militância: a virtual.Segundo Figueiredo, para isso é necessário fazer a equação do custo/benefício. "O que me parece é que a mídia digital diminuiu o custo da militância. Hoje, é possível atingir muita gente com pouco custo pessoal, de tempo e dinheiro, por meio do marketing viral, dos sites e, principalmente, das redes sociais", diz.Os partidos estão atentos a essa nova ferramenta, tanto que André Vargas, do PT, afirma que a militância na internet fará o grande diferencial nesta eleição. Só na web, ele estima que poderá contar com cerca de cem mil participantes. "Estamos cadastrando, buscando contatos e procurando os militantes nos diretórios para que eles possam trabalhar online, assim como já vêm militando offline, para o debate político e a interação com o eleitor", explica."O mundo da internet revalorizou o papel do militante. E é preciso preparar essa pessoa para que ela saiba postar conteúdo, discutir propostas e interagir com o eleitor", afirma o tucano André Regis. "A internet multiplica as ações e não temos como segurar", complementa Mroz, do PV.Na avaliação de Roberto Romano, contudo, apesar da força dessas novas ferramentas, é importante destacar que o militante tradicional tem um poder muito grande junto ao eleitorado, pois ele é capaz de, no boca-a-boca, traduzir o discurso nacional para a realidade local.

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