Para Lula, usineiros são heróis mundiais

Adversário histórico da esquerda, setor ganha o reconhecimento do presidente

Por Agencia Estado
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta terça-feira, 20, que o governo dele transformou os usineiros de cana-de-açúcar heróis mundiais. Em viagem a Mineiros, cidade a 420 quilômetros de Goiânia, ele avaliou que essa mudança é resultado da política de biocombustíveis e do incentivo à produção de carros de motor flex, com alternativa de rodar a álcool ou a gasolina. "Os usineiros de cana, que dez anos atrás eram tidos como bandidos do agronegócio, estão virando heróis nacionais e mundiais, porque todo mundo está de olho no álcool", afirmou. Adversário histórico da esquerda e dos movimentos sociais, o setor de álcool já foi acusado inclusive por setores do governo Lula de não cumprir acordos e não pagar dívidas contraídas em bancos oficiais. O setor também é um alvo tradicional de grupos de direitos humanos, que defendem melhores condições de trabalho nos canaviais. Lula observou ontem que 85% dos carros vendidos no ano passado no Brasil foram com motor flex. "Temos uma política séria, porque quando a gente quer ganhar o mercado externo, é preciso garantir o atendimento ao suprimento", disse. E lembrou que, no passado, o Brasil não conseguiu atender à demanda de álcool do mercado, o que teria resultado na falta de confiança no setor. Equilíbrio O presidente esteve em Mineiros, uma cidade de 45 mil habitantes, produtora de milho e soja, para inaugurar um complexo da Perdigão, um empreendimento de R$ 510 milhões que produzirá produtos à base de carne de aves. Embora o complexo tenha por objetivo exportar 80% da produção, o presidente fez um discurso defendendo a importação de produtos de países como Rússia, Venezuela e México. "Reivindicamos tanto que a Rússia compre nossa carne, mas não compramos nada da Rússia", disse. "É preciso que haja um equilíbrio no comércio internacional." A declaração do presidente foi uma resposta ao governador de Goiás, Alcides Rodrigues (PP), que pouco antes reclamou dos embargos do governo russo à carne produzida no Estado. Lula causou surpresa também ao rebater uma crítica do presidente da Perdigão, Nildemar Secches, que se queixou do trabalho da vigilância sanitária. Na avaliação de Lula, os pecuaristas também são "co-responsáveis" pelas doenças nos rebanhos. "Se ele (pecuarista) colocasse em risco apenas o rebanho dele, seria ótimo. Mas ele coloca em risco o Estado." ´PAC tem cara, nariz, cabeça, tronco e membro´ No discurso, Lula ainda fez um balanço positivo da economia do País. "Digo de boca cheia: não existe momento na história da República brasileira, desde que foi proclamada a República, que a economia tenha tido tantos fatores positivos", disse. "Isso me dá a certeza de que o Brasil finalmente encontrou o seu caminho", completou. Lula ressaltou a importância do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), lançado em janeiro pelo governo, para manter o País no ritmo do desenvolvimento econômico. "Posso dizer aos meus companheiros de Goiás: não tem na história do Brasil nenhum programa lançado com a seriedade que foi o PAC", afirmou. "O PAC tem cara, nariz, cabeça, tronco e membro, tem data de começar e de acabar, e é apenas o começo de uma política que só pode acontecer porque fizemos o resto certo." Antes do discurso do presidente, a prefeita de Mineiros, Neiba Barcelos (PSDB), pediu que o município recebesse ações do PAC, enumerando uma série de obras necessárias na cidade. O governador Alcides Rodrigues revelou, depois, uma confidência de Lula. "Se tivéssemos dez prefeitas como ela, o Brasil e Goiás iriam quebrar", teria dito o presidente.

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