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Para Dilma, 'não simpatizar' com presidente não é justificativa democrática para impeachment

Em café da manhã com jornalistas estrangeiros, presidente volta a classificar tentativas de afastá-la do poder de 'golpismo'

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Por Tania Monteiro , Daiene Cardoso , Isadora Peron , Carla Araujo e Rachel Gamarski
Atualização:

Brasília – Em café da manhã com jornalistas de agências de notícias, no Palácio do Planalto, a presidente Dilma Rousseff disse nesta sexta-feira, 15, que não se pode "tirar um presidente porque não está simpatizando com ele, porque isso não é nem um pouco democrático", nem por haver "desconfiança política". Para a presidente, um processo de impeachment "tem repercussão política de longo prazo na estabilidade do País" e o apoio da oposição ao atual pedido de afastamento da petista, ao não levar isso em conta, seria uma atitude "golpista". 

Dilma afirmou que, para se afastar um presidente da República, são necessárias "razões concretas, e não políticas", que precisam estar "previstas na Constituição". Na visão da presidente, só um regime parlamentarista pode prever a queda de um governo por desconfiança política, enquanto no presidencialismo é preciso respeitar o voto dado ao candidato eleito.  “Achar que tira (um presidente do poder) porque não gosta dele é algo do parlamentarismo”, afirmou. 

A presidente Dilma Rousseff em café da manhã com jornalistas em Brasília Foto: Adriano Machado/Reuters

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Previdência. Dilma também voltou a defender a necessidade de se reformar a Previdência no Brasil. Para a presidente, é “a questão mais importante para o País” neste momento, e não a sua permanência ou não no cargo. Mas a petista afirmou que, ao fazer essa comparação, não queria dizer que não considere "importantes" as “tentativas golpistas de alguns segmentos da oposição que insistem no impeachment”.

Para Dilma, evitar discutir a reforma da Previdência em ano eleitoral seria “subestimar” a inteligência das pessoas, pois a discussão “tem papel central para o futuro e na estabilidade do País”. "É um compromisso intergeracional (entre gerações)”, definiu Dilma. No entanto, tanto parlamentares da oposição como da própria base governista são céticos quanto as condições políticas para se aprovar medidas como idade mínima para aposentadoria e outras mudanças nas regras de aposentadoria.

Dilma argumentou que “a reforma da Previdência não é para tirar direitos, mas para preservar direitos”, e que deve ser feita "de forma gradual". "Não pode valer de forma imediata", disse a presidente, ao defender um período de transição das regras. "Tem de ser lenta, porque tem de dar conta das gerações."

A presidente defendeu um debate sobre o tema que não seja "politizado", porque "não é questão deste ou daquele governo". "Só é viável se for compreendida técnica e politicamente”, afirmou Dilma. "O Brasil está em um processo de aumento de idade média. Estamos cada vez vivendo mais. Então, a reforma da Previdência vai ter de ser decidida pela sociedade.”

Segundo a presidente, existem “vários caminhos” para se fazer a reforma e a intenção é trabalhar para “construir o consenso possível”. Ao lembrar que todos os países alteram idade de acesso à aposentadoria conforme o envelhecimento da população, Dilma comentou que o fator previdenciário móvel, que entrou em vigor no ano passado, poderá ser incorporado em uma reforma futura.

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Manifestação. Dilma também fez menções à importância da democracia ao ser perguntada sobre a nova leva de manifestações convocadas por movimentos contrários ao aumento da tarifa do transporte público, ocorridas especialmente em São Paulo neste início de 2016. “Tenho sempre o maior cuidado porque manifestação é algo que aprendemos a conviver com ela”, comentou a presidente, ao acrescentar que “temos de zelar pelo convívio com a manifestação, respeitá-las” e não tratá-las como uma coisa anormal, mas sim como “da democracia”, “da normalidade” porque elas “tem se tornar uma prática normal”.

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