Para cúpula do PT, caso do dossiê é 'falso escândalo'

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Por Vera Rosa
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Numa ação combinada com o Palácio do Planalto para abafar a crise, a cúpula do PT manifestou solidariedade à ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, e acusou oposição e imprensa de fabricarem um "falso escândalo" envolvendo a montagem de um dossiê sobre gastos com cartão corporativo no governo Fernando Henrique Cardoso. Em nota divulgada hoje à noite, a Executiva Nacional do PT também repudiou interpretações de que Dilma pode ter sido vítima de fogo amigo do próprio partido no vazamento dos dados sigilosos. "Uma análise dos fatos indica que a divulgação deste suposto dossiê mais parece obra de adversários do governo Lula do que de seus aliados", diz um trecho da nota de solidariedade. Para a cúpula do PT, tudo não passa de uma crise artificial. "No momento em que o governo do presidente Lula apresenta os mais altos índices de aceitação e reconhecimento da sociedade, e em que o PT cresce nas pesquisas de opinião, antecipando a possibilidade de importantes vitórias eleitorais em 2008, partidos de oposição e setores de imprensa tentam, de forma leviana e sem nenhuma prova efetiva, ligar autoridades a especulações fantasiosas", destaca o texto. Apesar das evidências de que o governo vasculhava o passado para se defender da esperada ofensiva do PSDB e do DEM na CPI dos Cartões, o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (PT), disse que os adversários do presidente Luiz Inácio Lula da Silva se dedicam a elaborar teorias conspiratórias. Afirmou, ainda, que a bancada do PT na Câmara e no Senado vai agir para debelar o que chamou de "ataques oportunistas" contra a ministra da Casa Civil. "Vamos evitar que a oposição produza um falso escândalo por semana", insistiu Berzoini. Na reunião da cúpula petista, dirigentes do partido chegaram a sugerir até mesmo um Dia Nacional de Mobilização em defesa do PT e do governo, no fim deste mês, mas nada ficou marcado. "O povo está prestando atenção no bom momento do País, e não nos factóides que duram o tempo necessário para que se tente criar outra confusão", reclamou o presidente do PT. A resistência de petistas à Dilma não é segredo para ninguém nos bastidores do partido, mas Berzoini procurou negar os problemas. Em conversas reservadas, deputados, senadores e até dirigentes do PT mostram inconformismo com o fato de Lula querer que Dilma seja candidata à sua própria sucessão, em 2010. Motivo: alegam que a ministra é "cristã-nova" no partido, ao qual se filiou apenas em 1999, e não chegaria onde chegou sem o empurrão do presidente. Além disso, um grupo do PT, liderado pelo deputado Cândido Vaccarezza (SP), acha que Dilma persegue petistas nos ministérios para emplacar suas indicações. Para Berzoini, porém, a ministra virou "alvo preferencial de quem quer prejudicar o governo" por sua importância política. Questionado sobre a maldição dos poderosos, que atingiu José Dirceu (Casa Civil) e Antonio Palocci (Fazenda), abatidos por uma sucessão de escândalos, ele desconversou. Mas, mesmo sem comentar a iniciativa do Planalto de tirar Dilma da vitrine eleitoral, admitiu que não é bom antecipar a disputa de 2010. "Mais importante do que discutir quem vai ser presidente é discutir quem vai ser prefeito", concluiu Berzoini.

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