Para atrair PSDB, Cunha prega 'voto útil'

Candidato do PMDB à presidência da Câmara tenta arregimentar bancada tucana com argumento de que é preciso evitar 2º turno com petista

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Por Ricardo Della Coletta , BRASÍLIA e MARCELO PORTELA /BELO HORIZONTE
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Com a entrada do Palácio do Planalto para fortalecer a candidatura de Arlindo Chinaglia (PT-SP) à presidência da Câmara, o líder do PMDB Eduardo Cunha (RJ) intensificou nos últimos dias a investida sobre os eleitores de Júlio Delgado (PSB-MG). A intenção é tentar evitar um segundo turno na eleição da Mesa Diretora da Casa. O alvo principal é o PSDB. Além dos tucanos, aliados de Cunha têm procurado também deputados do PSB, PPS e PV para defender um "voto útil contra o PT" já no 1.º turno. Essas legendas apoiam Delgado, hoje visto como um "azarão" e com poucas chances de ameaçar os dois principais postulantes ao comando da Câmara. A tendência é que a maior parte desses parlamentares migre para Cunha em um eventual 2.º turno. Na análise dos tucanos, a expressiva maioria da bancada deve migrar para o peemedebista se a disputa passar da primeira fase. Dentre os motivos apontados para o apoio estão a chance maior que Cunha tem de atender à oposição na condução dos trabalhos e a expectativa de enfrentamento com o PT e o governo que ele deve fazer. O PSDB não acredita no envolvimento do peemedebista na Operação Lava Jato. Em sua delação premiada, o doleiro Alberto Youssef citou o peemedebista como um dos beneficiários do esquema. Cunha nega. Mas a avaliação de deputados consultados pelo Estado é de que articulação do governo nas últimas semanas, embora não tenha retirado o favoritismo de Cunha, conseguiu "encorpar" Chinaglia. Para um deputado do PSDB, o candidato do PMDB sentiu a ação do Planalto para desidratá-lo e por isso atua para tentar resolver a eleição no primeiro turno por saber que uma segunda rodada pode se transformar em "outra eleição". Coerência. Com 54 deputados a partir de fevereiro, o PSDB resiste a antecipar o "voto útil" e trabalha para garantir uma unidade da bancada em torno de Delgado. Para os tucanos, apoiar um candidato genuinamente da oposição no primeiro turno é uma mensagem de coerência com o que foi defendido pelo presidenciável tucano Aécio Neves na campanha do ano passado. Mas defecções em favor de Cunha são previstas no primeiro turno, tendo em vista que o voto é secreto. Na segunda-feira o peemedebista participa de um encontro com a bancada do PSDB de São Paulo. Nesta semana, o Palácio do Planalto operou para ampliar os apoios a Chinaglia, o que, na avaliação de deputados, acabou por colocá-lo em uma situação mais favorável na disputa. O ministro das Cidades, Gilberto Kassab, costurou a adesão da bancada do PSD à plataforma do petista. Tido como um dos principais cabos eleitorais de Chinaglia, ele comanda um orçamento de R$ 32,2 bilhões na pasta e prepara a refundação do Partido Liberal. O Planalto também escalou ministros para cobrar fidelidade de siglas que foram contempladas com ministérios no segundo mandato da presidente Dilma Rousseff mas que têm demonstrado preferência pelo peemedebista, como PRB, PP e PTB.

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