Para analistas, Marina Silva seria a 3ª via em 2010

Aliados políticos e amigos que dialogaram com a senadora já dão como certa sua filiação ao PV

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Por Gustavo Uribe
Atualização:

As chances de a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva (PT-AC) ser demovida pelos petistas a se candidatar à presidência da República em 2010 são cada vez menores. Aliados políticos e amigos que dialogaram com a senadora em Rio Branco (AC), onde Marina passou o fim de semana, já dão como certa sua filiação ao PV. Uma eventual participação da ex-ministra na disputa à sucessão no Planalto é bem vista por cientistas políticos entrevistados pela Agência Estado.

 

 

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Na avaliação deles, Marina representaria uma "terceira via" em uma corrida eleitoral polarizada por PT e PSDB. "Ela deve ser a alternativa dos eleitores descontentes com o governo do presidente Lula e com o trabalho da oposição", explica Humberto Dantas, conselheiro do Movimento Voto Consciente.

 

Os cientistas políticos ainda ressaltam que a participação de Marina na corrida eleitoral deve empurrar a disputa para o segundo turno. Figura carismática e com uma trajetória de peso em prol do meio ambiente, a ex-ministra deve obter "uma margem de 15% dos votos em primeiro turno", estima Dantas.

 

Além de eleitores descontentes com a dobradinha PSDB-PT, a ex-ministra deve angariar os votos de eleitores mais esclarecidos sobre os riscos de uma catástrofe ambiental e de "órfãos da ex-senadora Heloisa Helena (PSOL)", que pode não disputar as eleições em 2010.

 

"Ela vai carregar uma bandeira importante e pouco recorrente no universo político brasileiro: a proteção ao meio ambiente", lembra José Paulo Martins, coordenador da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP).

 

Caso seja mesmo candidata, Marina Silva também deverá provocar uma mudança no discurso eleitoral de seus concorrentes, sobretudo o tucano José Serra e a petista Dilma Roussef, que se pautam por uma linha mais desenvolvimentista.

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Para Carlos Melo, do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper, ex-Ibmec), a senadora colocará em pauta no debate político a preservação ambiental, "tema pouco caro aos virtuais candidatos à presidência Dilma e Serra".

 

Na sua avaliação, tanto a ministra-chefe da Casa Civil como o governador de São Paulo terão como carro-chefe em 2010 programas que esbarraram no meio ambiente e compraram briga com ambientalistas. "Eles terão de tomar cuidado quando falarem sobre o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e sobre o Rodoanel", destaca Melo

 

Desde o início de junho, a ex-ministra do Meio Ambiente é sondada pela cúpula do PV para disputar a sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Seu nome surgiu em pesquisa feita com membros da sigla que apontou o desejo de 85% da militância em ter candidatura própria nas próximas eleições.

 

No início um pouco relutante em aceitar o convite, Marina mudou de postura no final de julho, quando uma pesquisa telefônica encomendada pelo PV mostrou que o seu nome é competitivo para a disputa presidencial.

 

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Ainda que a ex-ministra seja uma candidata de peso, as chances de ela ser eleita são reduzidas, avaliam os especialistas. Humberto Dantas lembra que o PV é um partido pequeno, com pouca representação política e com um reduzido tempo de campanha televisiva. Contudo, os analistas foram unânimes em reconhecer que tanto Marina como o PV devem sair ganhando desse enlace eleitoral.

 

A ex-ministra deve ter apoio incondicional dos verdes em reafirmar a sua luta favorável à preservação do meio ambiente. E a sigla ganhará projeção nacional e deve fortalecer a sua bancada no Congresso Nacional. "O partido já fala em ampliar de 14 para 25 o número de deputados federais. Eles estão certos em apostar que a senadora é uma boa puxadora de votos", avaliou Dantas.

 

Urnas - Além de forçar mudanças na campanha presidencial, uma eventual candidatura de Marina Silva também deve alterar o desempenho dos grandes partidos nas urnas, principalmente o do PT. Carlos Melo ressalta que a ex-ministra deve atrair votos de simpatizantes petistas e de membros da esquerda insatisfeitos com o governo do presidente Lula.

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O cientista político ainda lembra que o "fator mulher", novidade que renderia votos à candidata petista, perderá força com a entrada de Marina na disputa. "Uma corrida eleitoral com duas candidatas não gera o mesmo frisson que uma disputa com apenas uma".

 

Outro ponto que também poderá prejudicar a eleição de Dilma ao Planalto é o fato de Marina Silva ser ex-ministra de Lula, o que lhe dá munição para tecer críticas contra o governo. "O PT tem razão em ter medo de uma candidatura da Marina", alerta Dantas. "Além de ter conhecimento sobre a sigla, há um ressentimento antigo entre a senadora e a ministra-chefe da Casa Civil", completou.

 

Dantas se refere às divergências entre Dilma e Marina por conta de licenças ambientais para obras do PAC, cujo estopim entre elas teria sido o pedido de demissão de Marina da pasta do Meio Ambiente, em maio do ano passado. "A legenda vai ter de pisar em ovos com a Marina", frisou Dantas.

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