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Para analista, Nordeste requer política especial

Média de pessoas que vivem na zona rural é maior que a do País e rendimento agrícola é baixo

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Por Redação
Atualização:

Para alguns estudiosos da questão agrária, a redistribuição de terras deveria se limitar a algumas áreas mais problemáticas do País - como a região nordestina. A tese de Eduardo Girardi, da Unesp, não endossa esse ponto de vista. Mas seus mapas apontam para a necessidade de políticas especiais para o Nordeste, onde persiste um alto grau de ruralização (a média de pessoas que vivem na zona rural é maior que a do País), mas com baixos salários, baixo rendimento agrícola, índice tecnológico sofrível. "A questão agrária no Nordeste necessita, acima de tudo, de uma intervenção que auxilie a produção agropecuária camponesa - o que permitirá a melhoria de vida dessa população significativa", diz Girardi. Observando os mapas, percebe-se que é impossível tratar o Nordeste da mesma maneira que outras regiões. Do Rio Grande do Sul a Goiás, passando por Santa Catarina, Paraná, São Paulo e parte de Minas, verifica-se a existência de um bolsão de riqueza, caracterizado pela diversificação agropecuária, alta produtividade, bons salários para os trabalhadores, intensa atividade familiar. "Os maiores rendimentos do pessoal envolvido na agropecuária coincidem com a região do agronegócio especializado", diz Girardi. A questão do combate à violência também deveria ter tratamento diferenciado, segundo indicações de Girardi. De acordo com números da Comissão Pastoral da Terra (CPT), uma das fontes do Atlas da Questão Agrária, entre 1986 e 2006 verificou-se que 1.100 trabalhadores rurais e pequenos proprietários foram assassinados e 3.200 ameaçados de morte. O principal foco dessa violência é o Pará, onde a presença da máquina do Estado é fraca. Vale notar que o assassinato da religiosa americana Dorothy Stang, o crime que mais chamou a atenção do País e teve repercussão internacional, em 2005, ocorreu no Pará. Outra observação sobre o Estado, contida no capítulo sobre estrutura fundiária do Atlas: fica no Sul do Pará uma das faixas com maior concentração de terras no País. Girardi inclui o trabalho escravo entre as formas de violência no campo. Cita que, entre 1986 e 2006, a CPT registrou denúncias de escravidão em 368 municípios, envolvendo 140 mil trabalhadores. "Para agravar o quadro", diz o pesquisador, "parte significativa desses trabalhadores tende a permanecer nos municípios onde foram escravizados, o que aumenta as chances de reincidência da prática".

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