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Papéis do Ibama "legalizam" madeira roubada no Pará

Por Agencia Estado
Atualização:

Agentes da Polícia Federal do Pará, cumprindo determinação do juiz da 1ª Vara Federal de Belém, Francisco Garcez Castro Júnior, apreenderam hoje guias de transporte de madeira e várias pastas com documentos de empresas madeireiras num escritório de contabilidade no centro da capital paraense. A gerente executiva do Ibama no Pará, Selma Melgaço, informou ter mandado abrir sindicância para apurar possível envolvimento de funcionários do órgão no esquema. O superintendente da PF, Geraldo Araújo, disse que o material apreendido será enviado à Justiça, a quem cabe a tarefa de decidir se manda ou não abrir inquérito policial. A venda de documentos falsos para a extração de madeira ilegal da floresta amazônica já provocou o fechamento de uma serraria no município de Tailândia, no leste do Estado. O delegado Eliezer Machado, que investigou o caso e prendeu duas pessoas naquele município, remeteu o inquérito à Justiça Federal. Os acusados de vender Autorização de Transporte de Produtos Florestais (ATPFs) se negaram a falar no inquérito, afirmando que só irão contar o que sabem em Juízo. No escritório estourado pela PF em Belém, a funcionária Ana Maria Velasco negou qualquer envolvimento na fraude. Mas com uma câmera escondida, uma equipe de tevê conseguiu ouvir da própria acusada como a carga clandestina era legalizada. "Tu tá comprando só o papel, só para acobertar", dizia Ana Maria, na fita gravada. E para enganar os fiscais, ela preencheu uma ATPF e uma guia declarando que a madeira vai ser vendida para uma serraria da qual diz ser procuradora. Ana Maria até adianta quanto custaria o serviço: "Dá R$ 3.600, 300 metros". Depois, procurada pela reportagem, ela apresentou outra versão: "Eu não posso fazer isso, só quem pode é o dono do projeto, junto com madeireira." Apresentado no Ibama, a chance do documento ser aceito como verdadeiro é grande, admite o chefe nacional de fiscalização, Leland Barroso. "É uma prova inequívoca da fragilidade dos nossos sistemas de controle que tem que ser urgentemente melhorados", avalia Leland. O documento "frio" abre caminho para as carretas que saem da floresta com a carga ilegal. Em Tailândia, as guias, que só são distribuídas pelo Ibama, estavam sendo vendidas como mercadoria por prestadores de serviços. "Cerca de 50% da madeira que se encontra aqui no município e na região são todas irregulares", afirma Amarildo Formentini, fiscal do Ibama. O presidente do Sindicato das Serrarias, Wagner Kronbauer, admite: ?Eu acredito que não deve passar de 25% a madeira que não tenha origem legal."

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